A não condenação da Rússia no parlamento é real, não é coisa inventada. O PCP, em matéria de relações internacionais/geolpolítica, socorre-se de um entendimento que não encontra muita ligação à realidade actual. A Rússia, Putin, é hoje o principal financiador da extrema-direita europeia, chegando a interferir nos processos eleitorais de países democráticos a favor de autocratas. É sintomático o persistente elogio de Trump à genialidade estratégica de Putin, renovando a admiração que expressara aquando da anexação da Crimeia. Ou o desconforto de Bolsonaro em relação a esta invasão. E o PCP continua a raciocinar nos termos de uma velha ordem mundial, como se o que estivesse em causa fosse uma batalha ideológica comunismo-capitalismo. Jerónimo tenta emendar a mão, continuando contudo a usar uma visão ultrapassada, quando afirma que as acções de Putin são um ataque à União Soviética. Compreendo a ortodoxia do partido, mas talvez fosse apropriado rever algumas posições, visto que caminha a passos largos para o desaparecimento. A realidade hoje não admite qualquer contextualização que amenize a condenação veemente da Rússia, não concede espaço a elucubrações que omitam uma condenação taxativa da invasão de um país soberano. Até porque ninguém compreenderá ou uma censura geral ao caminho que conduziu ao conflito, sobretudo se nessa censura a ênfase é colocada na NATO e nos EUA. Inabilidade política: era o momento de calar e votar com os restantes partidos. O momento para discutir a se NATO alargou de mais ou de menos não era aquele.