O que se passa não tem rigorosamente nada que ver com comunismo, com ideologias políticas num sentido nobre. A Rússia é tão comunista como a Alemanha ou Portugal. A invasão não tem como finalidade a implantação de um regime comunista da Ucrânia. O problema, quanto aos nossos partidos, é que o próprio PCP não compreende isto e teima em recorrer a modelos analíticos do século passado. Irá pagar um preço elevado pela sua reacção inicial, pois ninguém compreenderá a recusa em deplorar a agressão à Ucrânia.
O modelo hegemónico... e diria que único... é o capitalismo, nas suas múltiplas formas. Os problemas que hoje enfrentamos são problemas desse sistema, não de um outro que não tem existência real a não ser talvez na Coreia do Norte, se tanto. E são esses problemas de devemos discutir, não coisas irreais. O que ainda torna mais absurda a posição do PCP, pois somente cria ruído e contribui para o tribalismo esquerda-direita, quando nada disso é relevante no conflito Ucrânia-Rússia. Esdrúxulo, considerando que essa cega lealdade, baseada no passado histórico e não na realidade actual, aproxima o PCP da família política de extrema direita europeia pró-Putin. A sabedoria popular parece fazer algum sentido neste caso, os opostos aproximam-se ou tocam-se.