O Gonçalo tomou a decisão que qualquer um de nós tinha tomado.
Não foi pelo dinheiro.
Quê? O Sporting paga-lhe mais 10mil por mês que nós? Foda-se, essa diferença é o que ele vai auferir por dia daqui a um par de anos.
Poupem-me a esse ridículo!
A questão prende-se com o futuro. O seu futuro enquanto profissional de futebol.
Infelizmente, e como aqui já foi dito várias vezes, o Porto não é clube que dê prioridade à formação.
Não preciso de ir muito longe. Da equipa que foi campeã europeia em 2019, quantos são apostas seguras?
Fábio Vieira joga a espaços sem nunca lhe terem dado o estatuto de jogador titular e o João Mário foi titular na lateral direita nos últimos 2/3 jogos do campeonato.
Todos os outros ou já tiraram bilhete para outras paragens ou andam a penar para conquistar o lugar aos Manafá e Zaidus desta vida.
E os miúdos das escolas já perceberam o que se está a passar no clube.
Enquanto são miúdos, tudo está bem. Mas quando chegam àquela fase em que têm de tomar decisões na vida profissional (como qualquer um de nós) têm de pôr a cabeça a funcionar e pensar qual a opção que lhes dá mais garantias de ingressar no mundo do futebol.
De um lado tens o clube que amas mas que não te dá garantias nenhumas que vão olhar para ti quando chegares a senior.
Até podes fazer parte do plantel mas as oportunidades serão escassas e ao primeiro erro perdes o lugar para um jogador de qualidade dúbia e vais directamente para a bancada sem passar pela casa de partida.
Isto, claro, se os teus atributos até forem ao encontro do que o treinador procura num jogador. Senão és emprestado para um clube amigo sem que a tua evolução seja salvaguardada por quem assinou os papéis correndo o sério risco de saíres de lá pior jogador do que entraste.
(sim, é isto que tem acontecido).
Do outro tens um clube que está disposto a pagar mais por ti porque te quer na equipa principal.
Trabalhar directamente com um treinador que tem dado provas cabais que aposta nos jovens. Dás-lhes tempo para crescer, errar. Dar todas as condições para seres o jogador que todos preconizam vires a ser.
Caralho, vocês escohiam ir para onde?
Exemplo:
Os enfermeiros são das profissões mais fustigadas pela falta de oportunidade de trabalho em Portugal. Formam-se e depois é uma lotaria no acesso ao mercado de trabalho.
Acabado o curso, têm duas opções:
Ou ficam em Portugal, no país que amam, junto da família mas a terem-se de sujeitar a trabalhar na Zara ou numa caixa do Pingo Doce ou, na melhor das hipóteses, arranjar uns biscates na área a ganhar à hora.
Ou despedem-se de quem amam, com a lágrima no olho mas sabendo que vão trabalhar na profissão para a qual estudaram.
Neste caso, todos concordamos na responsabilidade do Estado em não dar condições aos enfermeiros, e demais profissões com o mesmo problema, de encontrar soluções para os seus.
No Porto, a culpa é do jogador.