Recordando notícia do expresso sobre VP e a experiência na Arábia Saudita, home de convicções fortes num país com censura à liberdade de expressão e amadorismo futebolístico fruto de padrões culturais bem distintos dos europeus e países latinos:
"Verdade absoluta número um: é difícil ser treinador. Verdade absoluta número dois: é muito mais difícil ser treinador no Médio Oriente. Verdade absoluta número três: é ainda mais difícil expressar a nossa irritação numa língua estrangeira que não se domina a 100%.
Que o diga Vítor Pereira, que foi parar à Arábia Saudita no verão do ano passado
para liderar o Al-Ahli Jeddah, sem saber que ia ter de lidar com assessores intrometidos, organizações desorganizadas e conferências de imprensa à Monty Python. Que depois chegaram, pelas redes sociais, claro, a Portugal.
Ninguém os avisou que este foi um treinador bicampeão pelo FC Porto?
A primeira rábula meteu Vítor Pereira contra um assessor do Al-Ahli Jeddah. Já aborrecido com a derrota da sua equipa frente ao Al Ittifaq, Vítor Pereira não conteve a irritação quando foi interrompido pelo assessor, pedindo-lhe que restringisse o seu comentário aos aspetos técnicos do jogo, em vez de individualizar. Num inglês meio macarrónico, Vítor Pereira lança-se numa cruzada pela liberdade de expressão. "Meu amigo, falo do que quiser, senão vou para casa. Meu amigo, isto é a primeira vez na minha vida que me dizem o que devo dizer. Posso dizer o que vi, a verdade?"
Em português a coisa não tem graça, mas o facto de Pereira insistir na "verdade" e na frase "I speak with the truth", num sotaque duvidoso, ajudou bastante à popularidade do vídeo (e do próprio Vítor Pereira, cuja empatia como treinador do FC Porto foi muitas vezes descartada pelos adeptos) nas redes sociais, logo no início do ano.
As nossas mães ensinaram-nos que não devemos rir da desgraça dos outros, mas como evitar o sorriso ao ver uma segunda rábula do treinador pelas Arábias, algumas semanas depois? Quando um jornalista insiste numa suposta "má" substituição de Vítor Pereira, a impaciência (e o inglês duvidoso) do técnico volta ao de cima: "Falem comigo de futebol, não de um jogador, outro jogador […] Meu amigo, tu és um grande, grande treinador. Eu não, mas tu és". Fala com a verdade, Vítor.
A fase final da estadia de Pereira na Arábia Saudita já foi bastante mais proveitosa dentro de campo,
com os últimos 14 jogos a terem apenas dois empates como resultados negativos. O pior surgiu na final da Taça do Rei, em maio. No dia anterior, a equipa chegou ao estádio para treinar e o recinto estava fechado. E, no dia da final, o autocarro chegou ao campo 25 minutos antes do jogo.
O que se seguiu foi, claro, a irritação de Vítor Pereira, em portu-inglês: "I can say que… […] O resultado foi Al-Ahli 3, Al-Ahli 0. Demos tiros no próprio corpo".