A ignorância é de facto atrevida.
A diabetes (e outras doenças associadas aos comportamentos e à idade) têm um componente transmissível associado à genética. Isso é apenas uma das causas etiologicas da doença, daí designarem-se por multifatoriais. Tentar confundir multifactorial com comorbilidades, ou seja, a presença de outras patologias que agravam a doença aguda, é puro desconhecimento ou enviesamento intencional. Confundir "transmissível" geneticamente com transmissão indivíduo-a-indivíduo por contaminantes (aerossóis, produtos orgânicos) que são veículos de transmissão de microorganismos é, mais uma vez, enviesamento intencional, para além de transformar uma discussão séria num debate de semântica. Comparar morbimortalidade de doenças crónicas com aquela que é associada a uma patologia infecciosa aguda, comparar as atitudes preventivas/terapêuticas e a pressão sobre sistemas de saúde de umas e outras e opinar levianamente sobre o mesmo é de uma arrogância atroz. Finalmente, o argumento da economia é simplesmente infantil se se considerar o seguinte: 85% dos doentes com COVID não carecem de cuidados hospitalares. Só com os outros 15% o sistema está tão sobrecarregado neste momento que não consegue manter cuidados às patologias usuais e ao volume normal (extra-COVID) atual. O passo seguinte é a mortalidade e morbilidade geral aumentar por falta de recursos. Isto com as medidas em efeito, porque sem elas já teríamos uma falência do SNS e estaríamos a fazer medicina de catástrofe, em que deixamos de tratar todos os doentes possíveis e passamos a tratar só os doentes com maior possibilidade de sobreviver e que aloquem menos recursos. Aí, quando começarem a morrer ou a ficar seriamente incapacitadas as pessoas que tenham apendicites, obstruções intestinais, enfartes e uma panóplia de doenças que acorrem às urgências deste país e que são resolvidas em tempo óptimo, como vão ficar as PME e outras onde essas pessoas trabalham? Quem vai substituir as vidas perdidas, juntamente com a experiência e desempenho profissional das mesmas? Quem vai assegurar os cuidados quando as equipas de saúde estiverem desfalcadas porque os profissionais estão infectados, alguns internados e outros mortos?
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