(Não me leves a mal a opinião discordante, pf.)Visualmente é um realizador espantoso.
Ele está para o David Fincher, como o Christopher Nolan está para o Spielberg.
Não podia estar em maior desacordo, e não consigo perceber nenhum desses paralelismo traçados.
O Nolan está para o Spielberg em quê exatamente? Em fazerem blockbusters mantendo pretensões artísticas (sendo que o trabalho do Spielberg vai muito além disso)? Isso é uma análise mercantilista do que eles produzem, porque em termos cinematográficos não há razão para serem filiados.
Nem o Nolan pediria para ser "colado" ao Spielberg se pudesse escolher o nome de um realizador a quem o seu trabalho pudesse ser ombreado.
Escolheria o Kubrick (em segredo, porque é ousadia a mais).
Influenciá-lo, óbvio que influenciou (influenciou quase todos os filmes de grandes estúdios), mas certamente menos que Kubrick, Ridley Scott, David Lean, Malick (na epicidade transcendal na lente), Roeg, Tarantino (ligeiramente, na parte da estrutura narrativa). Narrativamente também parece profundamente impactado (sem fazer nenhuma justiça, ou favor) pela tradição não-linear sul-americana de Borges, Cortázar, Bolaño (e os filmes do Resnais e afins, por outro lado, são o oposto)...
De qualquer forma, eu nem gosto muito do Nolan (personagens mal construídas sobretudo se mulheres, exposição descarada, ideias pretensiosas com substância fininha, emoção mal explorada, editing hiperativo, sobrecarga de forma injustificada pelo conteúdo, tropes muito mecânicas e literais, pouca subtileza), mas reconheço o inegável engenho, artifício visual, domínio do meio, takes esplendorosos (e.g. há takes do Tom Hardy no Dunkirk nada menos que groundbreaking, e o mérito não é todo do van Hoytema), o purismo do celulóide,...
Se o Nolan não insistisse em escrever os guiões dos filmes que dirige (o que não faria sentido para a maioria dos seus fãs, que adoram a sua narrativa "inteligente"), acho que o realizador de quem via a sua carreira aproximar-se seria o Ridley Scott, outro mestre do meio com criatividade muito mecanística mas que não escreve os próprios guiões. Se todos os guiões do Ridley tivessem a qualidade dos do David Lean ou Kubrick (muitas vezes injustamente acusado de uma frieza que é desmentida pelo final do Paths of Glory), estava num patamar muito superior.
Não vou fazer o mesmo exercício para o Fincher/ Villeneuve porque assim não sairia mais daqui, mas - mais uma vez - a maior aproximação é serem ambos realizadores com uma estética muito própria e marcada que atingiram o mainstream (o Fincher há mais tempo).
Ambos já atravessaram géneros e têm um ou outro filme que nisso coincide, mas o Fincher é mais Fincher no neo-noir, cinematografia muito característica que emerge na atmosfera magnética e obscuridade das personagens. Os filmes mais Fincher-like do Villeneuve são o Prisoners (claramente, e foi aí que acho que nasceu a ligação dos dois) e o Enemy; se se quiser forçar, pode haver alguma coisa no Incendies (que se calhar o Fincher até melhorava tirando o melodramático sleight-of-hand do final que não é muito do meu gosto), no Sicario só tematicamente; em termos de palete de cores e palete moral, estes quatro são mais negros...
Já os primeiros (os outros francófonos, alguns dele com toques de Assayas, um godardiano, outro se calhar inspirado no novo cinema japonês) e os últimos filmes do Villeneuve, Arrival e BR 2049, - que são os mais marcantes (junto com o Sicario) da sua estética, não têm nada a ver com Fincher. Tem tanto a ver com Fincher como com Paul Thomas Anderson, como com Iñarritu, e trinta e tal outros..., se for só para dizer nomes de outros realizadores mainstream com preocupações artísticas claras e literacia cinematográfica. Percebia melhor comparações nesses com Wong Kar-wai, Jia Zhangke, Bergman na linguagem, um melhor Aronofsky, um mini-neo-Tarkovski, Jeff Nichols, até Cuarón na sensibilidade, Malick na poesia e Spielberg na escala,...
Por outro lado, não estou a ver o Villeneuve a voltar a fazer um filme como o Prisoners (não é material para ele), acho que vai conseguir manter a estética arthouse que o distingue, e acho que ainda não chegou ao pico da sua carreira sempre em crescendo, sendo que o Fincher tem mais oscilações no trajeto (apesar do único filme verdadeiramente mau ser o Alien 3; tem uma obra sólida).
Ou seja, acredito que se admirem mutuamente, mas não vejo nenhuma relação vertical Fincher-Denis com o Denis em baixo...
Sei que escrevi de mais dizendo de menos mas queria responder a algo que me pareceu desarrazoado, e não queria dizê-lo sem tentar sequer substanciar alguma coisa.
Apologies.
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