Meu amigo Artur Jorge, permita-me que o trate assim e perdoe-me por apenas agora poder fazer esta singela mas sentida homenagem.
Acredite que, ainda há poucos dias tinha me lembrado de si e de que nunca mais tinha visto qualquer noticia sua e logo depois recebo o eco da sua partida. É extremamente difícil perder os nossos, sei perfeitamente que é muito complicado para a sua família, pois é a pior experiencia que podemos adquirir, por ser de uma dureza inultrapassável. Será apenas atenuada através do tempo, mas jamais esquecida. Tendo acontecido após doença prolongada, faz com que me identifique ainda mais com o seu sofrimento e de quem o acompanhou.
Quero agradecer-lhe por tudo o que fez à frente do nosso Clube. As suas equipas, herdadas do nosso querido e amado Pedroto, são as primeiras de que tenho memória. O Bibota, o Futre, o Madjer, os Jaimes – Magalhães e Pacheco, o Sousa, o André, o Lima Pereira, o Zé Beto, o Mlynarczyk, o João Pinto, o Inácio, o Quim, o Vermelhinho, o Celso, o Elói, o Juary, o Frasco, o Eduardo Luís,, etc, etc, etc, deixaram em mim marcas inolvidáveis. O futebol de uma qualidade superlativa, as exibições inesquecíveis e momentos que guardo com um carinho muito especial que ficaram para sempre gravados no meu álbum de recordações.
Época 84/85
A vitoria na Luz em Janeiro de 85. Cruzamento do J. Magalhães e cabeceamento icónico do idolatrado e adorado Gomes. 25 mil portistas em extâse na Luz. Sim, 25 MIL… Para clube regional não está mau...
Os 9-1 ao Vizela nessa mesma época. A memória vai até me lembrar de falar desse jogo com os meus colegas de escola, na 3ª classe…
Ainda nessa época, os 5-1 ao Belenenses no jogo do título. Gente dentro do relvado à espera que o jogo acabasse.
Época 85/86
Nesta época, o golão do Celso de livre em Alvalade, a vitória em Setúbal com golo do Futre, enquanto na Luz, o sporting batia o Benfica por 2-1 e estendia a passadeira para sermos campeões. Cenas de festejo no relvado sadino anteviam a conquista do bicampeonato, que viria uma semana depois, em casa perante o Covilhã, ultimo e com descida garantida. Mas como no futebol nada é garantido, essa vitória viria com dificuldade e um grande susto.
Eu de rádio na mão e já na 2ª parte só oiço o Covilhã fazer o 2-1 em plenas Antas, isto depois de termos estado a ganhar com um golo do André, salvo erro de penalty, logo no inicio do jogo. Valeu que até ao fim, marcámos mais 3 e ficou 4-2… As Antas quase vêem abaixo e o Bi era nosso, de novo. O benfica perderia nessa jornada no Bessa, pelo que, até podíamos ter perdido, mas assim teve mais significado.
Época 86/87
As memórias vão quase todas para a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Ainda assim, recordo alguns jogos de âmbito nacional.
Um jogo nos Barreiros, visto in loco, onde ganhámos 4-1. O trio Gomes, Futre e Madjer deu festival e o Bibota fez hat trick.
Os 4-2 na Luz para a Supertaça em Novembro de 86, com Futre e Madjer endiabrados. O Bibota marcou, tal como os seus outros dois companheiros do famoso trio. Nos dias de hoje, seria apelidado de FMG, como o MSN ou o BBC…
Infelizmente, em Janeiro de 87 viríamos a perder por 3-1 nesse mesmo estádio num jogo onde o Rui Águas fez hat-trick e o TRI começava a ficar complicado.
E recordo-me também de dois jogos com o V. Guimarães, ambos terminados com 2-2. Um Vitória, talvez a melhor equipa de sempre dos vitorianos, comandada pelo Marinho Peres e onde pontificava um trio de ataque terrível e que ficou famoso, composto por Paulinho Cascavel, Ademir e Roldão. Ficaram em 3º e relegaram o Sporting para 4º.
Houve também um Porto - Sporting para a Taça que perdemos por 1-0 após prolongamento… A concentração já era quase total na Taça dos Campeões…
Na campanha para Viena, lembro de todas as eliminatórias.
9-0 ao Rabat Ajax, de Malta. 1-0, lá, salvo erro.
3-0 em casa ao Viktovic, campeão checo, depois de perdermos 1-0 na Checoslováquia.
Nos quartos, o Brondby, o Schmeichel era o guarda-redes. Depois de ganharmos 1-0 nas Antas, estivemos a perder o jogo na Dinamarca, até que o Juary empatou e o sonho mantinha-se.
Depois veio o Dinamo de Kiev. Muitos diziam na altura que era a melhor equipa do mundo. Tenho mais memória da 2ª mão na então URSS, às 4 da tarde. Um golo do Celso e outro do Gomes selariam a passagem à tão ansiada final, onde encontraríamos o Bayern que, havia eliminado o Real Madrid, se não me engano, com 4-1 na Baviera e derrota por 1-0 em Chamartin.
Sobre o dia 27 de Maio de 1987, posso dizer que a ansiedade que senti foi grande e que um bocado antes do jogo, vindo da natação, perguntei ao meu Pai se o Porto podia ganhar, ao que ele respondeu, “não é fácil, mas, vamos ver…”
E assim foi. A 1ª parte foi complicada. Entrámos nervosos, sem conseguir explanar o nosso potencial, muito presos e sem a magia que nos caracterizava. Importante salientar que faltavam dois baluartes dessa equipa e do Portismo. O Bibota e o Lima Pereira, ambos por lesão. Um rombo tremendo para quem ia disputar um jogo de uma vida.
Graças a Deus, na 2ª parte, desinibimo-nos e soltámos todo o nosso potencial. O Futre pintou a manta aos alemães, o Madjer fez de Picasso, e o nosso meio campo sobressaiu para encostá-los. O Frasco e o Juary, entrados na 2ª parte, foram fundamentais para uma vitória incrível.
O golo do Madjer é indescritível. Quase 40 anos depois e ainda me arrepio a vê-lo…
Da segunda passagem, as memórias são diferentes, o momento era outro, os interpretes eram outros também. A dupla Domingos - Kostadinov foi algo que ficou na retina, mas já não havia a mesma magia na equipa. O espirito era igual, a raça idêntica, mas já não era bem a mesma coisa... A culpa não foi do Artur Jorge. Era simplesmente diferente...
Por tudo isto e mais uma vez, o meu muitíssimo obrigado. Tenho grandes e bonitas memórias da minha infância e o senhor é parte importante desses momentos.
A memória nunca o apagará da História do FC Porto, nem do Futebol.
Descanse em Paz.