Tecnologia criada no Porto gere redes de água sem usar energia elétrica
Investigadores do Porto estão a desenvolver uma tecnologia para controlar a água em redes de abastecimento e sistemas de rega agrícolas, que não necessita de bateria nem de energia elétrica para funcionar e que permite reduzir os custos associados.
As soluções atuais de geração de energia em condutas de água não são apropriadas às pressões existentes nas redes de abastecimento de água potável, o que conduz a constrangimentos nesse abastecimento, disse à Lusa João Ventura, do departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (DFA-FCUP), um dos responsáveis pelo projeto TriboE.
O objetivo deste projeto, explicou, é criar uma turbina triboelétrica de alta eficiência e baixo custo, que será aplicada em sistemas de distribuição de água potável, capaz de gerar energia elétrica a partir de pequenos fluxos de água.
Através desta tecnologia, continuou, será possível gerar a energia necessária para alimentar os dispositivos de sensorização, como é o caso dos sensores presentes em redes de abastecimento de água ou em sistemas de rega agrícolas.
Esta turbina utiliza uma nova tecnologia, baseada no efeito triboelétrico, que, embora extremamente comum no dia-a-dia, só recentemente tem sido utilizado para gerar energia, referiu o investigador.
Recorrendo a esse efeito, consegue-se converter todo o tipo de energia mecânica, devido à sua alta eficiência de conversão (que pode chegar aos 75%), densidade de potência, baixo custo e fácil fabrico, acrescentou.
Segundo João Ventura, esta tecnologia está a ser desenvolvida com o intuito de aumentar a segurança e o controlo dos sistemas de monitorização de água, tornando-os mais autónomos energeticamente, sem necessidade de recarregar bateria ou levar energia elétrica aos locais onde estão instalados.
Ao gerar localmente a energia necessária para alimentar sensores, utilizando uma turbina triboelétrica eficiente, a nossa proposta afasta a necessidade de substituição de baterias, permitindo reduzir custos e perdas de água na rede de distribuição, frisou.
Esta criação, segundo o responsável, resulta do trabalho desenvolvido ao longo do tempo ao nível de tecnologias para recuperação de energia do meio ambiente, que, há dois anos, passou por um dos seus momentos fulcrais de desenvolvimento.
A ideia para o TriboE surgiu em 2016, durante a tese de mestrado de Cátia Rodrigues, outro dos elementos da equipa, na qual desenvolveu um protótipo capaz de aproveitar pequenos fluxos de fluidos, como água ou ar, para gerar energia elétrica que pudesse ser utilizada para alimentar sensores.
Desde essa altura temos continuado a otimizar a tecnologia, de modo a tornar viável a sua demonstração em ambiente real e, possivelmente, a sua comercialização, contou.
De acordo com João Ventura, este projeto pretende responder às necessidades das empresas de abastecimento e distribuição de água, que procuram otimizar as suas operações e melhorar os serviços prestados.
Neste momento, a equipa está a criar um protótipo para ser colocado em condutas de abastecimento de água potável, para demonstrar a tecnologia em ambiente real, levando, assim, à sua comercialização.
Além de João Ventura e Cátia Rodrigues, colaboram no TriboE o professor André Pereira e a pós-doutorada Mariana Proença, todos pertencentes ao Instituto de Física dos Materiais da Universidade do Porto (IFIMUP) e ao DFA-FCUP.
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