Se houvesse colhões por parte de quem decide ele nem sequer era convocado.
A título de exemplo:
O nosso Eterno Bicho, um dos maiores capitães e líderes que esta modalidade já formou, teve aquele momento da braçadeira nas Antas e todos perceberam que não havia muitas condições para continuar no clube. Precisava de arejar.
E falamos de uma situação em que do outro lado estava o Octávio Machado.
Cristiano nem um dedo mindinho vale do Jorge Costa. Enquanto capitão e enquanto homem (na minha opinião, vale zero mas vamos assumir que ainda há ali uma réstia de humanidade). E não houve contemplações na hora da decisão. E falamos de um Bicho que estava no seu prime.
E andamos nós a prestar vassalagem a este mafarrico violador fascista que já conta 40 anos e que já nem sequer é o melhor jogador português há quase uma década.
Esta visita à casa Branca para se sentar à mesa com um sujeito que anda nas bocas do mundo por ser pedófilo é surreal. Já para não falar em tudo o resto que este homem representa e defende.
É surreal e óbvio pois está mais do que na cara que vai pedir o perdão do caso Mayorga. Aproveitar que o Trump está a perdoar criminosos. É mais um!
Votei na esquerda toda a vida mas tenho sentimentos mistos em relação a isto e gosto de colocar os critérios de forma igual para ambos os lados. Ponho esta admiração do Ronaldo pelo Trump na mesma categoria que coloco a amizade entre o Maradona e o Fidel.
Por um lado acho que um jogador legalmente é uma pessoa como as outras e pode ter as opiniões políticas que entender sem ser sujeito a represálias no seu emprego por te-las. Abrir um precedente com um castigo ao Cristiano ou a outro qualquer seria algo com o qual eu não me sentiria minimamente confortável.
Por outro lado a atenção mediática que o Cristiano tem decorre da sua profissão que quer ele queira quer não tem uma componente de responsabilidade no que toca a relações públicas e de comunicação para o exterior daquilo que é a voz colectiva do grupo. Por muito que se queira separar águas o Cristiano quando fala em público o que diz nunca vai ser percepcionado como um "falar a título individual" porque, novamente, a atenção e holofotes que lhe são dados não decorrem da pertinência das suas opiniões mas da sua fama enquanto futebolista. Nesta lógica, andar a dar opiniões políticas em plataformas com enorme visibilidade é de forma indirecta arrastar (ou mesmo usar) o clube que representa e a selecção nacional para um fim que não é o seu.
A mim espanta-me como é que alguém que está há mais de 20 anos na esfera mediática não tem mais cautelas com isto nem a noção que estar a apoiar uma facção é estar a dividir aquilo que deve ser a percepcionado como algo agregador: a selecção nacional e o desporto como um todo.
Se fosse a ele e dado que o disparate já está feito reforçaria MIL VEZES que o que está a fazer é a título individual e que não quer que isto seja visto como a posição de nenhuma instituição que representa. Se não o fizer acho que a FPF deveria no mínimo dos mínimos dar uma palavra. Evitaria grandes comunicados e grandes escândalos mas se fosse possível diria algo do género como "A FPF respeita a opinião política de todos os seus atletas e nunca exercerá nenhum mecanismo coercivo para quem usa da sua legitima liberdade de expressão. De todo modo é bom relembrar que a FPF é hoje e será sempre uma entidade apolítica e que a opinião de um dos seus elementos não vincula a FPF a essa mesma posição nem muda a natureza agregadora que a FPF quer para o futebol e para o desporto em geral". Deste modo não daria trela para vitimizaçoes mas faria igualmente uma desmarcação inteligente.