como é que dizes que têm pouco a ver?
neste texto dava para substituir só o nome por Anselmi e ficava correcto à mesma.
e ainda se podia adicionar a cena das marcações homem a homem...
Visualizar anexo 36999
Isto merece uma resposta mais elaborada e estou com sono, mas cá vai...
A semelhança que vejo é o princípio da atração na primeira fase de construção. Algo que, de facto, o Anselmi procurava fazer, mas simplesmente não havia o mínimo de fundamentos para tal, que é da responsabilidade do treinador afinar: é impraticável quereres atrair o adversário e os teus médios esconderem-se e darem-se à marcação, sem terem os mínimos de mobilidade e disposição para serem parte ativa do processo. Há que saber jogar entre as linhas do adversário e ler os espaços nos quais podes receber a bola ou atrair os adversários e libertar para quem possa receber. Caso contrário, o adversário fecha-te os caminhos, e resta apenas bater bombo, como acontecia 90% das vezes com o Anselmi. Penso que até no vídeo com que me respondeste há pouco dá para ver os médios do Ajax a serem soluções para receber a bola ou para atrair e libertar espaço para os colegas. Depois, também ajuda saber onde queres atrair o adversário. O Porto de Anselmi começava a querer fazê-lo quase em cima da linha de golo, o que fazia com que a bola fosse uma batata quente para jogadores que além de azelhas (daí dizer que quem quer que venha, tem de receber uma revolução no plantel), têm níveis de atitude e confiança no lodo e acabam por errar passes absolutamente básicos que colocam a equipa na lama. Não vejo o Ajax do Farioli a querer fazer o mesmo. De resto, exploração de espaços, o guarda-redes ser parte da construção, criação de superioridade numérica são princípios de jogo que considero universais numa equipa grande.
Para concluir, algumas diferenças que para mim fazem com que haja um universo de distância de Farioli para Anselmi:
- jogar com extremos declarados - exploração de toda a largura do campo, algo que para mim é um atentado não ser feito no futebol moderno, e que com Anselmi era absolutamente desprezado;
- pressão alta na primeira fase de construção adversária - algo que me irritava profundamente não ver com o Anselmi, em que só se tentava recuperar a bola quase quando o adversário entrava no nosso meio-campo. Uma equipa grande tem de condicionar o adversário e constantemente fechar os caminhos e obrigar a bater longo, algo que no Ajax acontecia;
- número de homens em zonas de finalização - penso que foi visível no vídeo que meteste ver sempre 4 ou 5 jogadores do Ajax prontos a receber o último passe. Com o Anselmi penso que nem vale a pena comentar a quantidade de vezes que se via o Mora e o Samu entregues a si próprios numa ilha rodeados por adversários e o resto da equipa atrás da linha da bola;
- overlaps e underlaps constantes - um princípio básico no futebol que, uma vez mais, não existia com Anselmi, e que para tal é fundamental jogar com extremos;
- liberdade individual nas zonas ofensivas - isto não existia com Anselmi, em que tudo era rígido, estático, e não havia variabilidade nenhuma de soluções para ferir o adversário. No Ajax do Farioli, tanto se viam laterais por fora a ganhar a linha, como a aproveitar o espaço interior e a potenciar situações de 1x1 aos extremos; os médios ofensivos a aproveitar o espaço central-lateral e a atacar a profundidade; os extremos bem abertos a irem para cima do adversário no 1x1 e em dinâmicas constantes com os laterais.
Volto a dizer, não estou certo que o Farioli tivesse cá sucesso, em grande parte pela falta de experiência e por não saber qual o estilo de liderança dele no balneário. E no momento atual do Porto, estes são aspetos fundamentais. Mas em termos de futebol jogado, penso que não há razão nenhuma nas comparações com o Anselmi.