RACISMO
Marega sobre os colegas de equipa: Acho que não compreenderam a minha reacção
O avançado do FC Porto, que decidiu abandonar o campo no domingo depois de ouvir insultos racistas vindo dos adeptos do Vitória de Guimarães, declarou-se decepcionado e chocado numa entrevista à rádio francesa RMC.
Moussa Marega falou esta segunda-feira com mais detalhe sobre o incidente deste domingo no estádio D. Afonso Henriques em Guimarães, descrevendo os insultos racistas de que foi alvo como uma grande humilhação e afirmando que os colegas de equipa não o compreenderam quando decidiu abandonar o campo.
Só que, a partir do momento em que os sons de macaco passaram a ecoar pelo estádio, tornou-se inconcebível ficar em campo, disse. Quando se torna o estádio inteiro, não é possível, não pode ser. Não se pode jogar quando gozam assim connosco. O treinador Sérgio Conceição tentou manter Marega em campo para evitar um segundo cartão amarelo, disse, e o treinador e os colegas de equipa fizeram de tudo para acalmar. Mas a decisão estava tomada.
Tendo jogado no Vitória de Guimarães no passado, Marega diz que ainda ficou mais chocado com os insultos: Nunca imaginei que isto pudesse acontecer aqui, joguei no Guimarães, sempre apoiei o clube, fiz parte da sua história. O que aconteceu ontem chocou-me. Não sabia que este clube tinha [adeptos] imbecis destes, referiu.
O avançado agradeceu todas as mensagens de apoio, dizendo que tudo melhorou quando chegou a casa e viu o seu filho. Voltei a sorrir, e as mensagens de apoio deram-me uma força incrível, confessa. Ainda assim, diz que as publicações de apoio dos clubes não têm efeito prático, que é como os maços de tabaco que dizem fumar mata e que deveria haver um gesto forte por parte dos árbitros e da Liga. Têm de fazer algo, concluiu, dizendo-se decepcionado que um episódio destes possa ainda acontecer em 2020.
O Ministério Público anunciou esta segunda-feira que vai investigar o episódio racista, confirmou o PÚBLICO junto da Procuradoria-Geral da República. O inquérito instaurado está nas mãos do Departamento de Investigação e Acção Penal de Guimarães. A Polícia de Segurança Pública (PSP) está também a aceder às imagens das câmaras de videovigilância do Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, para identificar os responsáveis das agressões verbais ao avançado dos dragões.
Depois de Marega ter marcado o 100.º golo da sua carreira, que deu a vitória ao FC Porto (1-2), foram atiradas cadeiras para o campo e os assobios e insultos não cessaram. O avançado do FC Porto acabou por abandonou o campo depois de ter ouvido insultos racistas nas bancadas, como macaco, chimpanzé e preto, segundo a imprensa desportiva no local.
Mostrou-se irredutível, mesmo depois de alguns jogadores da sua equipa e Sérgio Conceição, treinador portista, terem tentado demovê-lo, ainda em campo. Depois de pedir a substituição, Marega apontou para as bancadas do recinto vimaranense, com os polegares para baixo, numa situação que originou uma interrupção de cerca de cinco minutos.
O avançado maliano já tinha falado sobre o tema no Instagram, mencionando os idiotas no estádio que gritaram insultos racistas. Agradeço aos árbitros por não me defenderem e por me terem dado um cartão amarelo porque defendo a minha cor da pele, escreveu ainda. No rescaldo do jogo, o episódio racista foi condenado pelo treinador Sérgio Conceição, por vários clubes e jogadores portugueses e internacionais, assim como pelos partidos e até pelo Governo, que adjectivou o sucedido de intolerável e garantiu que os responsáveis serão punidos. Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, manifestaram solidariedade com o jogador.
https://www.publico.pt/2020/02/17/desporto/noticia/marega-colegas-equipa-acho-nao-compreenderam-reaccao-1904495