Antes das últimas eleições, disse que não se candidatava se António Oliveira, Rui Moreira ou Villas-Boas avançassem. O que é que o fez mudar de ideias?
-Em relação a António Oliveira, não me fez mudar nada porque o convidei para se candidatar e ele disse-me que não, que achava que eu ainda era necessário e devia candidatar-me. Disponibilizou-se para estar ao meu lado para o que quisesse e, portanto, não mudei de opinião. Ele é que continuou a manter. Disse até publicamente que nem que soubesse que ganharia as eleições, que era incapaz de concorrer contra mim. E, de facto, foi essa a atitude dele. O Rui Moreira, por quem tenho muita estima, acho que há quatro anos podia ter sido um bom candidato. Neste momento, acho que não seria, porque conseguiu separar-se do mais importante que o clube tem, que é a sua equipa de futebol, quando teve aquelas intervenções, infelizes para mim, a atacar o Sérgio Conceição e quando veio dizer, na contratação do Francisco Conceição, que tínhamos comprado um mini, depreciando o valor do jogador. Erradamente, como se está a comprovar jogo a jogo. Acho que isso criou um fosso entre ele e o departamento de futebol, porque os outros jogadores também se solidarizaram com o Francisco. Em relação a Villas-Boas, como em qualquer altura, eu apoiaria candidatos se os visse bem acompanhados com o projeto. Quando vi na apresentação quem lá estava, só vi pessoas que são inimigas do FC Porto, só vi ressabiados, só vi pessoas que nunca fizeram nada pelo FC Porto, que são totalmente desconhecidas. É evidente que não podia apoiar. Recordo-lhe que só me candidatei depois do Villas-Boas. Não foi antes, foi depois. Porque ainda admitia, e estava na esperança, que ele se rodeasse de gente do FC Porto, capaz de continuar as vitórias e a gestão destes 42 anos. Quando vi que não era assim, resolvi candidatar-me, sacrificando a minha vida, a minha família, que era contra a minha candidatura, porque não confiava de maneira nenhuma no que estava a ver. E tive razão. Quando vi o tal Zubizarreta numa fotografia ao lado do Carlos Gonçalves e do Raul Costa, que são os empresários do Villas-Boas, percebi, de facto, que eram eles que vão comandar. E não só por perceção minha, mas porque o Carlos Gonçalves disse a várias pessoas e até jogadores que ele é que iria mandar no futuro. E o Raul Costa fez pressão sobre os jogadores com quem tínhamos de renovar para que não renovassem, porque no futuro ele é que ia mandar no FC Porto. Perante estas situações, não tinha outra solução que não fosse candidatar-me.
É verdade que Antero Henrique foi a casa da sua filha procurando convencê-la a influenciá-lo a não se candidatar?
-É verdade que foi lá muito preocupado se me ia candidatar ou não, que achava que eu não o devia fazer. Curiosamente, depois ouvimos essa conversa na apresentação do candidato Villas-Boas, que eu ia ser o presidente dos presidentes, que ia ter todas as benesses, que não me devia candidatar, até porque em janeiro iam desferir ataques contra o clube, embora não fosse diretamente a mim, a aconselhar-me a saber e a dar ideia de que não me devia candidatar. A minha filha disse-lhe que não se metia nisso, que estava tão poucas vezes comigo por causa de futebol, que quando estava comigo não era para falar de futebol. Ela contou-me isso imediatamente. Já previa, e já sabia, que essa candidatura estava a ser preparada por ele e pelo Dr. Raul Costa. Há mais de um ano que os sogros do Dr. Raul Costa, que são amigos do Vitor Baía, não tendo nada a ver com o futebol, o aconselharam a afastar-se de nós, porque no futuro estavam a prepará-lo para que o Villas-Boas fosse o presidente do FC Porto. E o Vítor disse: “Não. Estou com o presidente, é com o presidente que vou continuar”. Depois, os envolvimentos, aquela apresentação, achei aquilo tão mau, tão ridículo... Desde um apresentador, que acho que até é um artista... é ator. Ver um ator dizer que está apaixonado, fazer uma declaração de amor, estou apaixonado, não sei se se lembra, mas estou apaixonado por o Villas-Boas e lhe dar um beijo publicamente. Achei aquilo tudo tão ridículo, de uma montagem tão pirosa. E depois, repito, aqueles que eu vi... olhe, vi ex-jogadores que não são sócios, nem nunca foram do FC Porto. O [Nuno] Valente, que foi um defesa-esquerdo excelente, que foi muito importante, mas sempre, mesmo quando aqui jogava, se assumiu como sportinguista. Sempre. Achei tudo aquilo de um ridículo que... olhe, levou-me a candidatar. Contra os conselhos da família, que queria mais a minha presença, que sabe como eu sou, que quando meto nas coisas é 100%.
Ficou desiludido quando viu que na primeira fila estava a família Pedroto, que apoiava o candidato André Villas-Boas?
-Não, já calculava, porque sabia, pelas informações que tinha, que o filho do Zé Maria Pedroto ia ser diretor do FC Porto. Que ia ser usado como um trunfo por ser filho de... aliás, quando se fala desse senhor, ninguém diz o nome, é o filho do Pedroto. Quando se diz que um indivíduo é o filho do Pedroto, é porque ele não tem realmente motivo para que se refira. Ele nunca foi nada no FC Porto, nunca teve nenhuma ligação ao FC Porto, foi apenas usado pelo nome de Pedroto. E como sabia que isso estava nos planos, e como tanto a mãe do Rui Pedroto e irmã entraram para sócias no fim do ano passado, percebi logo que estariam do outro lado. Não sei porquê, se será pela promessa que tinha de ser diretor. Dizem que foi porque a filha foi para um hospital que é da Misericórdia, que foi o António Tavares... Mas isso a mim não me interessa. Cada um faz as suas opções. A mim já nada me admira.
Mas não houve nenhum desentendimento?
-Nunca, nunca... Nunca houve. Tenho aqui mensagens dela a justificar-se quando não veio aqui à sessão em homenagem ao pai que o professor José Neto faz sempre no dia 7 de janeiro. Tudo cordial. Apenas ia sabendo. É estranho que uma família que estava ligada a um grande treinador do FC Porto e só aos 80 anos é que se lembra de entrar para sócio, era fácil de prever que, de facto, o filho iria ser alguma coisa no FC Porto. Foi candidato a vice-presidente.