A vitória em Alvalade tem um peso que não cabe no resultado. Em dois meses, Farioli devolveu ao Porto uma coisa que não se compra: personalidade. O jogo começou com um manifesto, a bicicleta do Sainz aos 15 segundos, como tenho vindo a falar, como é bom ver que finalmente se trabalha lances de bola parada, e terminou como tinha de terminar: com o Porto a sair de cabeça levantada do estádio do bicampeão. O resto foi crescimento, nervo… e um aviso a nós próprios.
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Na 1.ª parte o Sporting teve mais posse, mas o Porto criou o perigo mais claro, com 0–0 ao intervalo.. A pressão coordenada, a coragem para jogar alto e a forma como partimos cada saída adversária mostraram um Porto que sabe o que quer. Não foi um acaso: foi trabalho.
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A segunda parte trouxe o teste. O meio-campo fraquejou uns minutos, o jogo começou a pender, e aí **Farioli leu. Mexeu cedo (Rosario e Zaidu aos 58’) e o jogo virou: De Jong gelou Alvalade aos 61’ numa finalização de ponta-de-lança, e William Gomes assinou um golaço aos 64’, daqueles que ficam no YouTube para sempre, após jogada iniciada por Froholdt. Dois socos secos: 0–2 e controlo emocional… ou devia ter sido.
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Porque é aqui que entra a lição da noite. Depois do 0–2, vi os jogadores a rir, a gozar, a brincar. E eu, dizia aos meus filhos, bem bravo: “Isto nunca se faz, nunca se perde o foco antes do apito final.” Eles olharam para mim meio incrédulos, como quem pensa que o pai está a exagerar e que até que era divertido. Não deu 15 segundos, lá estava o Porto a sofrer um autogolo e o jogo a reabrir. Nesse momento, eles olharam para mim como se eu fosse bruxo. E eu só pensei: que esta lição lhes fique para a vida. Porque no futebol, e na vida, a distração paga-se caro. Em campo, até soar o apito, é seriedade máxima. Espero que este ponto seja bem revisto dentro do balneario.
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Individualmente, a noite teve dois rostos. William, eleito melhor em campo, partiu a porta do jogo com um golo que não cabe em adjetivos e ainda foi peça na construção do 0–1. E Froholdt, discreto para quem vê só highlights, voltou a ser o metrónomo e o extintor: equilibrou, serviu o remate do 0–2 e cortou transições que podiam meter muita agua. Futebol é assim: os holofotes escolhem um, mas as vitórias costumam ter varios pais.
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Atrás, fica o reparo que não largo: aquela mania dos passinhos curtos na saída, quase em jeito de recreio, cheira a desgraça. Hoje não rebentou, mas amanhã pode custar caro. Entendo a ideia, atrair o adversário para depois sair a jogar rapido, mas isto não é Playstation. Precisa de ser mais trabalhado, mais sério e com outra concentração, respeitando o adversario.
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Porque tudo o resto está a nascer bem, e não faz sentido arriscar entregar jogos de mão beijada. Esse é o único ponto que ainda destoa numa equipa que já começa a mostrar alma e identidade. E sim, ainda sentimos a tal quebra física na segunda parte, como nos jogos anteriores, mas aí está precisamente o lado entusiasmante: imaginem este Porto quando conseguir reduzir essas quebras.
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E mesmo com essa oscilação, houve algo que não falhou: **a capacidade de ser equipa grande nos momentos decisivos**. Pressionámos quando era preciso, soubemos sofrer quando foi necessário. É desse equilíbrio entre mandar e aguentar que nascem as equipas sérias, aquelas que marcam épocas.
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Saí de Alvalade com dois pensamentos:
1. Estamos no caminho certo. Em dois meses, este Porto já tem identidade e coragem.
2. Somos nós contra nós. Se tirarmos as distrações, afinarmos as dinâmicas defensivas e gerirmos melhor o esforço, este Dragão torna-se imparável. Independentemente de Arbitros (isso é uma boca para alguns) AhAhAh
Isto é jogar à Porto.
E é para continuar.