"Iker Casillas é um caso singular no mundo do futebol. Não me lembro de ver em Portugal um futebolista desta dimensão - verdadeiramente icónico - tão menosprezado pela crítica especializada.
É alucinante. A Liga portuguesa tem o privilégio de mostrar ao mundo um dos melhores de sempre (é preciso recordar o currículo do senhor?) e o tom escolhido é não raras vezes condescendente. Paternalista até.
Facto 1: o rendimento de Casillas na primeira temporada foi suficiente menos.
Facto 2: o rendimento de Casillas na segunda época está a ser excelente.
E como reage o adepto comum, o crítico, o comentador ocasional, ao primeiro erro grave do espanhol refiro-me ao golo de Guedes (Rio Ave) no Dragão na campanha em curso? À gargalhada, com acinte, hienas sedentas e necrófagas.
Iker não pode estar imune à avaliação negativa. Essa bula sacramental não lhe pode ser outorgada. Não é isso. O que defendo, e parece-me francamente razoável, é o direito ao respeito na hora do erro. O CV da personagem é a minha testemunha abonatória.
Faz muito mais sentido, de resto, ter Casillas a competir todas as semanas do que ver Júlio César irremediavelmente sentado no banco de suplentes do Benfica. Serão os salários, de um e outro, assim tão diferentes? Os clubes que respondam.
Iker defende a baliza da equipa com menos golos sofridos na Liga e era, ao final da primeira volta, um dos guarda-redes com mais defesas por jogo (3,2) e um dos mais pontuados pela redação do Maisfutebol.
Tem esta temporada uma mão cheia de boas exibições e um comportamento irrepreensível. Dentro dos relvados e fora deles. Na cidade do Porto.
Era aqui que queria chegar. Iker podia chegar à minha freguesia, fechar-se em casa, fugir das pessoas, passar os dias em frente ao espelho e a pensar eu é que sou bom, rico e bonito. Não, nada disso.
Iker convive, fala com os mais simples e os mais abastados, integra-se na comunidade, mistura-se com os anónimos para ser mais um deles.
Numa semana recente, a meio de uma corrida à beira-mar/rio (sim, a foz do Douro é linda), cruzei-me com Casillas na zona da Cantareira. Três pescadores rodeavam o guarda-redes e falavam sobre redes. Redes de pesca, não de baliza. Como se fossem velhos amigos. A imagem define-o socialmente.
Rir de um erro de Casillas é como gargalhar de uma fissura na estrutura do Taj Mahal ou de uma teia de aranha nos Uffizi. É esquecer o essencial, só para parecer engraçadinho.
Iker, eles não sabem o que dizem. Calça umas CHUTEIRAS PRETAS e fica em Portugal."