Não coloquei o povo russo como um elemento neutro, as pessoas terão a sua opinião. Não consigo é fazer generalizações nem adivinhar o que vai dentro da cabeça de cada um. Simplesmente coloquei-me na pele de um atleta russo imaginando que agora Portugal era governado por um maluquinho que invadia e declarava guerra a Marrocos e eu, atleta de alta competição cujo sonho era estar nos jogos olímpicos e poder fazer a minha vida normal participando nas competições ficaria de fora porque uns senhores de gravata decidiram que sim. Mesmo que eu me declarasse contra a posição do governo do meu país, teria que ficar de fora e a minha vida profissional ficaria em stand by, porque sim. A maioria dos atletas tem uma vida normal, não são ricos, têm uma família para cuidar. Se me acontecesse a mim ficaria desesperado. E só porque havia 20, 30, 40% de maluquinhos que apoiavam a invasão, eu teria que mudar radicalmente a minha vida e encontrar outra coisa para fazer por causa desses maluquinhos.
A Rússia é um país de 145 milhões de pessoas, muitas etnias, muitas culturas, não é só moscovo e são petersburgo. Não podemos colocar o ónus de poder acabar com a guerra no povo. Há pessoas a serem mortas, outras presas, famílias perseguidas e como se costuma dizer, quem tem cu tem medo. Falar de fora é muito fácil, vivenciar tudo aquilo na primeira pessoa é que já é mais complicado. Não é fácil num país tão grande organizar uma revolução e acabar com um regime que é controlado por um mafioso que lidera um grupo de mafiosos multimilionários.
É importante separar estas questões para que não cometam mais injustiças e aumente o sofrimento das pessoas para lá daquelas inerentes a uma guerra.
E convém salientar que não estou a fazer qualquer tipo de defesa dos russos, estou apenas a discordar de uma medida que penso não acrescentar absolutamente nada e que pode ter consequências contrárias. Esta oposição à Rússia e união de esforços da Europa já devia ter acontecido no passado quando invadiram a Geórgia. E deveria ter havido um maior decoro e vergonha na cara quando se permitiu que os mafiosos oligarcas russos lavassem o seu dinheiro sujo na Europa a comprar clubes de futebol, arte, etc. Os mesmos que têm aceitado os subornos da Arábia Saudita para lavar a sua imagem, esperemos que não se voltem a arrepender no futuro.
