Basta ver que passámos de pânico com covid para o absoluto esquecimento total da situação.. E temos agora esta moda do pivot de jornal moralista, que não só tenta ser o dono da indignação mas também o fulano que tenta condicionar a indignação dos outros. Nunca o filme Ace in the Hole foi tão atual como nos dias de hoje. E esta exploração mediática da guerra é qualquer coisa de doentia também. Um pouco para satisfazer uma parte da sociedade que só quer saber do lado voyeurista desta situação..Possivelmente terá razão. Ninguém se recordava já das regiões anexadas pela Rússia. Imagine-se que, depois disso, se continuava a vender bens e serviços militares à Rússia, a cumprir contratos como se nada fosse. A situação política da Síria caiu no esquecimento. Mal se fala do Iémen ou da assimilação por parte da China de territórios que gozavam de alguma autonomia. O nosso coração e pensamento está, muitas vezes, onde estão as câmaras e as objectivas dos média. Mas num tempo em que tudo é voraz, até a atenção corre o risco de se exaurir. Imagine-se que a Rússia consegue anexar mais alguns territórios ou implantar ali uns estados fantoche, que a guerra convencional passa a conflito latente e o problema arrasta-se durante anos, como se arrastava já nas regiões ucranianas ocupadas... talvez a urgência de hoje se transforme na indiferença de amanhã. Até poderá ser um fenómeno recorrente, expectável. Em todo o caso preocupante. Os próprios ucranianos têm vindo a lançar alertas nesse sentido e a apelar às nossas consciências e união. É importante ter memória.
Fazes bem em relembrar os alertas do próprio P.M ucraniano que quando fala aos parlamentos sabe que pouco (para não dizer nada mesmo) irá mudar mas pelo menos mantém-se no palco da agenda mediática e força a que as grandes potências tenham que fazer algo. Ou fingir que o fazem, pelo menos.
Só julgo que esqueceste um pormenor que é relevante. Ao contrário dos refugiados ucranianos, nem toda a gente se preocupava com aqueles refugiados que morriam, morrem, e continuam a morrer a fugir de conflitos. Porque nesse caso, a agenda da extrema direita não se preocupa com a vida dessas pessoas. A preocupação deles é se eles chegam com bons telemóveis ou não. Não interessa o motivo porque foge. Ninguém quer saber, na realidade. Seria revoltante, mas ninguém com um palmo de testa pode esperar coerência nesse tipo de gente.