A BICICLETA DE ARTUR
António Oliveira foi claro e não pediu pouco: disse-lhe para ir lá para dentro e resolver. O brasileiro foi e resolveu.
Por João Queiroz
Emoção, sofrimento, alegria, momentos de génio e golos. A edição de 1997/98 teve tudo o que merece uma final da Taça de Portugal, que ficou para a história como uma das mais espetaculares disputadas no relvado do Estádio do Jamor.
Naquela tarde de domingo, 28 de maio, houve um jogo de nervos, mas de domínio do FC Porto, que cerca de um mês antes tinha garantido matematicamente a conquista do primeiro tetracampeonato da sua história.
A vitória começa a ser construída cedo, logo aos 16 minutos, com a cabeça de Aloísio, que guiou a bola para o fundo das redes da baliza de Quim na sequência de um canto cobrado por Drulovic. Oito minutos depois, festeja-se novo golo, desta vez saído dos pés do inevitável Jardel, que aproveitou da melhor forma um erro da defensiva contrária.
O intervalo chega com um 2-0 no marcador e o FC Porto parece ter um uma mão no troféu. Mas para o agarrar com as duas tem que suar muito na segunda parte. O Sporting de Braga reduz a diferença, três minutos depois de Jorge Coroado reiniciar o encontro. Começa aí uma fase de maior equilíbrio acentuada com a expulsão de João Manuel Pinto a cerca de meia hora do apito final, mas com os azuis e brancos sempre mais perigosos.
No banco, António Oliveira tira um trunfo da manga, decisivo para dissipar todas as dúvidas quanto ao vencedor: aos 75 minutos lança em campo Artur, que ainda hoje tem esse momento bem fresco na memória: O jogo estava partido, numa fase de grande velocidade, de parada e resposta. Antes de entrar, o mister disse-me: Vai lá para dentro e resolve o jogo.
E ele resolveu: servido de forma perfeita por Drulovic, o avançado fugiu à defensiva contrária e, com um sensacional pontapé de bicicleta, apontou o 3-1, fazendo descer o pano sobre o jogo com uma verdadeira obra de arte, que vale a pena ver e rever.
Esse golo ficará para sempre na minha memória, porque marcou a minha carreira. Por tudo o que significou: pela beleza, por ter sido marcado mesmo no fim do jogo e por ter acontecido numa final em pleno Estádio Nacional. Depois de ver a bola lá dentro, só pensei em correr em direção aos adeptos para festejar com eles. Foi um momento de imensa alegria, inesquecível, conta o avançado brasileiro, que fechou com chave de ouro uma temporada em que o FC Porto dominou a nível interno, vencendo o campeonato a três jornadas do fim.
Tínhamos uma grande equipa, que jogava bem à bola, dava espetáculo, que tinha raça e ia até aos limites em busca da vitória. Ganhava e convencia, lembra o antigo camisola 14 dos Dragões, com a qual também se sagrou três vezes campeão nacional e venceu três Supertaças.
A FINAL
FC Porto-Sporting de Braga, 3-1
Final da Taça de Portugal 1997/98
Estádio do Jamor
24 de maio de 1998
Árbitro: Jorge Coroado (Lisboa)
FC Porto: Rui Correia; Secretário, Aloísio, João Manuel Pinto, Kenedy; Paulinho Santos, Zahovic (Jorge Costa, 66m), Doriva; Sérgio Conceição (Capucho, 85m), Jardel (Artur, 75m) e Drulovic
Treinador: António Oliveira
Sporting de Braga: Quim; José Nuno Azevedo, Artur Jorge (Carlitos, 53m), Sérgio Abreu, Lino; Jordão, Bajcetic, Mozer; Formoso (Vaza, 53m), Karoglan e Sílvio (Prokopenko, 83m)
Treinador: Alberto Pazos
Marcadores: Aloísio (16m), Jardel (24m), Sílvio (48m) e Artur (90m)
Cartão amarelo: Sílvio (4m), Artur Jorge (10m), Mozer (18m), João Manuel Pinto (20 e 62m), Zahovic (60m), Karoglan (61m), Aloísio (63m), Lino (64m), Jorge Costa (78m), Kenedy (89m), Doriva (89m), Artur (89m)
Cartão vermelho: João Manuel Pinto (62m)
O PERCURSO
1998-05-24, Braga, 3-1 (F)
1998-02-24, (F) União de Leiria, 2-3 (a.p) (MF)
1998-02-04, (F) Freamunde, 0-4 (QF)
1998-01-14, (F) Maia, 4-5 (a.p) (1/8)
1997-12-17, (C) Juventude Évora, 9-1 (5e)
1997-10-26, (C) UD Valonguense, 8-0 (4e)
Texto publicado na edição de maio de 2016 da Dragões, a revista oficial do FC Porto, disponível na FC Porto Store do Estádio do Dragão