Este foi um dos maiores erros energéticos da Humanidade. O desastre de Chernobyl e a imensa propaganda do medo contra o nuclear atrasou em décadas a nossa libertação dos combustíveis fósseis.
É ler esta thread para se perceber melhor como a energia nuclear funciona e como podia melhorar a vida de toda a humanidade se fosse implementada sem medos.
Há muito que se diga sobre este tema.
Em primeiro lugar, é preciso compreender os objetivos globais sobre produção de energia. Refiro-me a atingir o patamar de produção uniforme que cubra todas as necessidades globais energéticas da forma mais limpa possível. A produção de energia é atualmente responsável por mais de 60% das emissões de gases poluentes para a atmosfera.
Depois a questão da segurança. Fizemos bastantes avanços desde Chernobyl, mas é preciso sempre considerar várias variáveis fora do nosso controlo, quando se pensa em criar estruturas com elevado potencial de destruição. Mesmo que ignoremos acidentes no funcionamento, erros operacionais humanos, erros na manutenção das centrais, áreas onde evoluímos imenso, não podemos evitar eventos naturais como sismos, erupções vulcânicas, tsunamis, etc. Nem podemos esquecer que o homem é a principal força devastadora deste planeta, e anda em guerra consigo próprio desde que é espécie. Se um terrorista alguma vez se lembrasse de enfiar um Boeing na central de Nogent, perdíamos Paris para as próximas décadas.
Na parte ambiental, os lobbies que promovem o nuclear criticam, e bem, a mineração de lítio para as baterias utilizadas e a falta de reciclagem das baterias recicladas. Diga-se, já existe tecnologia para reciclar 95% das baterias, mas apenas 8% são atualmente recicladas por falta de interesse e por ser mais caro que a produção de nova matéria-prima. Esquecem-se que o urânio precisa de ser minado também, e que a contenção (não eliminação) dos resíduos nucleares passa por construir silos subterrâneos enormes, que têm de durar 10 vezes mais do que o tempo em que esses materiais foram efetivamente usados na produção de energia. Este é, aliás, O problema do nuclear. Enquanto que as renováveis têm potencial de evolução, a produção em si é limpa mas o armazenamento ainda não o é, a produção de nuclear necessitará sempre destes processos de produção de matéria-prima e de despejo.
No que toca à evolução das baterias, temos um lobby todo apostado no hidrogénio, devido ao imenso capital investido no I&D, mas o hidrogénio, mesmo resolvido o problema da estabilidade, envolve imenso dispêndio de energia para refrigeração e transporte, o que as torna numa alternativa cara. Aproveito para dizer que Portugal está muito bem colocado no desenvolvimento de novas tecnologias. As baterias
solid state que serão a próxima
big thing no mercado automóvel já no próximo ano têm mão portuguesa, e existe uma investigação a decorrer para a criação de baterias baseadas em ião sódio extraído a partir do sal. À medida que se fala cada vez mais da dessalinização para produção de água potável, esta poderá ser uma forma de viabilizar financeiramente esse processo, embora isso envolva outros problemas ambientais, se fosse adotado a nível global (tendo a ver com a alteração de salinidade dos oceanos). Mas existem vários projetos em curso envolvendo o tungsténio, zinco e silício orgânico. Acredito que o futuro deverá passar por encontrar uma solução limpa na produção e eliminação de armazenamento, a grande questão, e relevante para todas as outras fontes de energia é: Quanto tempo até lá chegarmos?
Resumindo: concordo que foi um erro encerrar as centrais alemãs, após o investimento estar feito e ainda terem alguns anos de funcionamento pleno, sem alternativa renovável. Já a construção e exploração de novas centrais não é interessante. O custo de produção de energia solar baixou de forma tão extrema que é já a fonte de energia mais barata do mundo. Tem maior potencial ambiental, assim que forem resolvidos os índices de poluição do armazenamento. Mas não é a produção de energia que dita a evolução tecnológica do armazenamento, e o importante é produzir energia o mais cedo possível. E mesmo que os próximos 15 anos não tragam grandes alterações no que ao lítio vs urânio diga respeito, a solução ambientalmente mais sustentável ainda é o lítio.