"Foi na falta de capacidade de adaptação que, a meu ver, residiu o fracasso de Martín Anselmi no FC Porto, que está prestes a «morrer» pelas próprias ideias, não sei bem se por ser um extremista-radical ou antes um ultra-conservador.
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Ao pagar milhões por ele, Villas-Boas comprou as ideias – e a teimosia – de um treinador sem conhecimento prático de futebol europeu. Mas um clube como o FC Porto nunca devia permitir-se a este tipo de experimentalismos. Porque não: o futebol não é igual em todo o lado e, se os jogadores também precisam de tempo para se adaptarem a novos contextos, os treinadores não são exceção. E Anselmi precisava de duas coisas: dos recursos adequados e do tempo que não existe no FC Porto.
Talvez o mais sensato fosse a estrutura do clube, na pessoa do seu presidente, assumir que, face à profunda reestruturação que está em curso, é tempo de baixar as expectativas e não assumir candidaturas a títulos nacionais e até internacionais enquanto os alicerces não estiverem devidamente consolidados. Villas-Boas nunca escondeu que os tempos eram/são difíceis, mas nunca deu esse passo no sentido de assumir frontalmente uma realidade: o FC Porto não tem, nesta altura, capacidade para competir com os grandes rivais e precisa de tempo para voltar a ganhar.
O que num clube com a dimensão e a cultura ganhadora do FC Porto – que conquistou títulos internacionais e dominou o futebol português durante 40 anos, com curtos períodos de interrupção pelo meio – é difícil de aceitar. Até para um presidente que em vida praticamente só viu o clube ganhar.
A campanha dos azuis e brancos no Mundial de Clubes foi péssima. Teve muitos momentos maus – o caos absoluto é aquilo que mata um treinador – e poucos bons, como a primeira parte com o Palmeiras. Teoricamente, o grupo até nem era dos mais difíceis, mas aí voltamos à história das expectativas e vamos ao encontro da realidade: foi assim tão surpreendente o que aconteceu, ao ponto de ser o Mundial a fazer cair o treinador?"
In Maisfutebol