Para reflexão:
"No meio do turbilhão que tem sido a época do FC Porto, a chegada de Anselmi trouxe mais do que uma nova cara no banco: trouxe uma nova ideia. E ideias especialmente as ambiciosas, precisam de tempo para dar frutos.
O jogo posicional não é uma questão de "passar bem". Trata-se de uma forma de entender o jogo baseada em ocupações racionais do espaço, mobilidade coordenada entre setores, criação de superioridades (numéricas, posicionais ou qualitativas) e uma enorme exigência táctica e mental
É um estilo que exige tempo, treino e, acima de tudo, repetição e paciência. Não é reativo nem baseado no momento; é construtivo, controlado e estratégico. E diametralmente oposto ao jogo mais vertical e intuitivo que o Porto tinha nos últimos anos.
Mudar uma identidade de jogo exige tempo. E Anselmi chegou a um clube emocionalmente desgastado, com um plantel habituado a dinâmicas diferentes, numa época já a decorrer. Esperar resultados imediatos seria irrealista.
Tentar impor uma filosofia de jogo posicional num contexto de exigência imediata é uma tarefa hercúlea. Ainda assim, já se notam intenções: tentativas de saída apoiada, o controlo da posse, e uma busca por atacar com critério.
Ainda há falhas, claro. Mas há um plano e isso. vale muito mais do que viver à base do instinto ou do jogo direto
Transformar o Porto numa equipa que joga de forma pensada e dominante vai doer no início.
Porque todos estão a aprender algo novo. Mas a dor faz parte do crescimento
E nos projetos com continuidade que surgem as verdadeiras transformações. Guardiola precisou de uma época para estruturar o seu Barcelona. Arteta demorou para fazer do Arsenal uma equipa competitiva.
O Roberto De Zerbi nos primeiros meses também cometia muitos erros na saída desde de trás no Brighton, e depois era das equipas que mais apaixonava de ver. Xavi Hernández no Barcelona, início instável, críticas ao modelo e aos resultados, foi campeão espanhol.
Luis Enrique também no Barcelona, primeira metade da época com dúvidas e instabilidade, acabou a época com o triplete em Espanha. O quê que estas equipas tem em comum? Jogo apoiado e de ligação
Conclusão: não desistam cedo de um bom caminho
O FC Porto tem em Anselmi um treinador com ideias modernas e coragem para pensar o jogo de forma diferente. Se o objetivo é ter uma equipa dominadora, que joga com critério, que controla e impõe o seu ritmo, então há que dar tempo
Despedir um treinador que está a tentar construir uma identidade sólida seria mais um passo na direção errada. Não se constrói um jogo posicional de um dia para o outro, e Anselmi merece continuar. "