Sim, a política tem de se alicerçar em temas de alcance universal comuns a grandes conjuntos populacionais. As questões culturais têm também o seu lugar, e o Partido Democrata, largamente popular entre os negros, mais votado entre latinos (embora tenha perdido juntos dos homens) e asiáticos, líder destacado entre as pessoas não-heterossexuais... deve continuar a pugnar contra a discriminação. Não pode, porém, substituir uns temas por outros. Até porque é estúpido, para não dizer outra coisa, presumir que os eleitores votarão única e exclusivamente conforme a cor da sua pele, a sua orientação sexual ou identidade de género. Serão dimensões pessoais relevantes mas não totais. O eleitor negro também trabalha num emprego cujo ordenado se encontra estagnado há décadas. A mulher transexual também se vê a contas com uma dívida exorbitante por ter ousado adoecer...Está concentrado no wokismo e outras tretas próprias da pequena e média burguesia pseudo intelectual, e isso não era o Partido Democrata. E foi por isso que foi abandonado pelos Sindicatos, os 15 milhões de votos a menos (que não passaram para Trump que também baixou de votação embora cerca de 3 milhões a menos) explicam o alheamento de um PD subjugado ao palavreado pequeno burguês de elites que a classe trabalhadora não liga e absteve-se.
O partido tão-pouco pode cair nas patranhas dos opositores políticos, que, naturalmente, procuram preencher o espaço mediático com lutas culturais e questões securitárias - e assim redireccionar a atenção e a raiva dos eleitores para alvos que não a própria organização e problemas do sistema. Trump já lá esteve e acabou derrotado.
Seria necessário confrontar os monopólios que dominam os diferentes sectores económicos, regular o sistema financeiro, lutar contra os mais variados grupos de interesse... A opinião pública norte-americana converge em muitas áreas, em assuntos concretos. E, no entanto, não é certo que o Partido Democrata esteja interessado em assumir esse papel transformador. Mesmo que não esteja, precisa de um discurso mobilizador.
O que aconteceu durante a crise financeira de 2008 foi sintomático. Obama salvou o sistema sem exigir grande coisa em troca.