Já gastou mais de 500 mil euros só na campanha
Será André Villas-Boas capaz de por fim aos 42 anos de reinado do histórico líder dos dragões? 'Estou confiante', responde o candidato, que falou à SÁBADO de vários temas: do sonho de ser futebolista à paixão pelos carros e motas, da zanga com Mourinho ao susto com os dois tumores, e das...
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Alguns excertos:
Apesar de ser visto como um beto da zona nobre da cidade, André diz ter-se misturado facilmente com os jovens dos bairros pobres, descendo com eles, efusivamente, os degraus das bancadas até à rede, para celebrar os golos. “Considero-me uma pessoa humilde, simples, sem tiques de riqueza. Sempre me dei com toda a gente.” E acrescenta: “Não me parece que essa imagem que me querem colar, de menino da Foz, de classe social alta, pegue entre os sócios.”
Mourinho, diz, foi “o melhor professor” e um “verdadeiro agitador do futebol mundial”. “Estivemos juntos sete anos, vivemos muitas aventuras e éramos grandes amigos”, nota. A separação aconteceu em 2009. Farto de ser apenas um “treinador de gabinete”, André pediu para ser adjunto no Inter Milão, mas Mourinho recusou, surgindo na altura notícias a dar conta de que o Special One considerava que ele não dominava “a parte prática”. “A separação foi intensa e acabámos por perder o contacto. Falámos recentemente, nos seus 60 anos”, conta.
“Eu ganhava tão pouco no FC Porto que medi-me por baixo e fui para o Chelsea ganhar o mesmo que o treinador mais bem pago em Portugal na altura [Jorge Jesus, do Benfica]. Contrapus ao FC Porto o que ia receber no Chelsea e disseram-me que não podiam pagar. Eu disse-lhes: ‘Tenham paciência, mas o gajo [Jesus] ficou a 21 pontos no campeonato, não vou para o Chelsea por dinheiro.’ E então começaram a falar da cláusula de 15 milhões. A verdade está entre três pessoas: eu, o Antero [Henrique] e Pinto da Costa. E como há o entendimento público dessa história, o presidente aproveita para dizer que eu deixei a cadeira de sonho.”
Na China, onde esteve em 2016 e 2017, no Shanghai SIPG, Villas-Boas denuncia o nível de corrupção que encontrou, e que associa ao grupo Evergrande. “Antes dos jogos, tinha o meu diretor desportivo a dizer: ‘André, hoje o lateral direito está comprado. Se puderes, joga com outro.’ Mas o suplente era pior que o titular comprado. As coisas eram demasiado evidentes. Eu punha tudo cá para fora, e ali eras pago principescamente para estares calado. E a essas coisas eu nunca consegui obedecer.”
Apesar de ser então o quarto treinador mais bem pago do mundo (atrás de Pep Guardiola, Carlo Ancellotti e José Mourinho), recebendo 12 milhões de euros por ano, não quis renovar o contrato e saiu da China – “não havia dinheiro que pagasse aquela situação”
A sua candidatura à presidência do FC Porto é, como ele admite, “um ato de loucura absurdo”. Como André lembra à
SÁBADO, um amigo inglês com quem fala regularmente (o broker que lhe compra os carros clássicos) insultou-o “de morte” quando deixou a China, face ao ordenado milionário. E ao saber que ele ia ser candidato à presidência do FC Porto, disse-lhe: “Tu conseguiste fazer pior do que na China. Lá pagavam-te 10 vezes mais do que na Europa, mas agora vais ser presidente para ganhar zero!?” “Isto obedece a padrões de loucura, nada mais”, ri-se.
Há dois anos, André Villas-Boas foi informado de que Pinto da Costa tinha uma doença grave e que poderia ter seis meses de vida. Embora planeasse trabalhar como treinador por mais uma época, numa liga fora da Europa, e de um convite de última hora para orientar a seleção de Marrocos no Mundial do Qatar – que não se concretizou por detalhes contratuais –, começou a preparar-se para a candidatura à presidência: “Não podia permitir uma linha de sucessão direta no FC Porto”, explica à
SÁBADO. Já indignado com os resultados financeiros desastrosos do clube, temia que Pinto da Costa apontasse um dos vice-presidentes do clube à sucessão, e que este ganhasse apoio junto dos sócios através dos resultados desportivos. “O tempo foi dando a saúde necessária ao presidente para continuar e eu, perante esta incerteza, acabei por abdicar de treinar noutro lado e por me focar totalmente neste projeto.”
Por fim, apostou em empresas estrangeiras e lisboetas para a comunicação da campanha, para o design da página web e logótipo. “Se tivesse contratualizado uma empresa do Porto, a probabilidade de acertar num tipo com ligações à direção do FC Porto era enorme. Ia saber-se tudo”, diz. “Falava-se que eu me andava a preparar, mas ninguém sabia onde, e a malta foi desvalorizando. Acho que assim ganhei um pouco de terreno.”