Como se aumentam os rendimentos? Produtividade e inovação serão fatores importantes certo? Como podemos ser um país que crie mais riqueza, senão começarmos por segurar a mão de obra mais qualificada?
A produtividade é um fator importante, mas a interligação entre produtividade e rendimentos cai para o lado dos rendimentos. A produtividade do país é altamente limitada pelo poder de compra existente no mercado nacional. As duas terão sempre evoluções paralelas, mas o esforço inicial tem de ser feito na parte da procura.
Deixa-me exemplificar isto. Imagina que uma empresa quer lançar um produto de qualidade de alto valor. Eletrónico, tecnológico, utilitário, o que for. Componentes de qualidade, manufacturação especializada, preço naturalmente mais elevado. O produto pode ser muito melhor que qualquer concorrente, com maior durabilidade e eficácia. O que acontece? Colocas no mercado e perde em quantidade para as marcas brancas. Tentas concursos públicos e perdes constantemente para outro mais barato. A menos que seja estritamente para exportação (onde esses nichos já poderão estar preenchidos, já para não falar dos custos de importação dos componentes, porque Portugal pouco produz desses), esse é um produto condenado a morrer na análise de viabilidade.
A força da economia nacional define o que podes produzir localmente. Os salários definem a ordem de grandeza dessa economia. Tens varredores de rua no Luxemburgo a ganhar 40.000€ por ano. Limpam melhor que em Portugal? Ou a economia é simplesmente mais forte?
Aproveito para te perguntar. Para haver salarios atrativos primeiro não é preciso que hajam um quadro fiscal que torne um salário de 1.200€ atrativo?
Não. Definitivamente não. Há que mexer no quadro fiscal, mas esqueçamos os salários de 1200€.
Portugal devia contratar o Bordallo para dar uma de Bart Simpson em todos os muros do país.
"A inflação não é negativa."
"A inflação não é negativa."
"A inflação não é negativa."
"A inflação não é negativa."
Infelizmente, o que o sistema económico de capitalismo misto atual não tem são mecanismos de reajuste à inflação no mercado privado. E devido a isso, torna-se altamente dispendioso para o Estado fazê-lo também no público. Numa perspetiva utópica, haveria uma fórmula aplicada a todos os lucros empresariais que os dividiria de forma equitativa entre todos os intervenientes, incluindo a própria empresa (atenção, redistribuição de lucros inesperados não é redistribuição de meios de produção). Assim, se uma empresa visse um momento inflacionário catapultar os seus lucros, esses lucros seriam distribuídos corretamente por todos os intervenientes. Teríamos uma economia que poderia crescer, à vontade, 10%, 20%, 50% ao ano, porque todos os setores, Estado, empresas e trabalhadores, sentiriam esse mesmo crescimento individualmente.
Somos um país altamente importador. O que significa que tentamos ter um estilo de vida igual aos nossos vizinhos com menos dinheiro. Sempre que as outras economias crescem mais que a nossa, o nosso dinheiro passa a valer menos. O contrário também é verdade.
Para isto funcionar, Portugal tem de abraçar a subida de preços generalizada que adviria de um aumento de salários. Quando a estrutura de custos de uma empresa define os custos com pessoal nos 30% do volume de negócios, não podes aumentar salários se não aumentares esse VN. Não encontras café a 70 cêntimos na Alemanha, na Suíça ou na Noruega. A batata não custa menos de 1€, uma refeição na rua não custa menos de 15€ nesses países. O que os portugueses querem é manter essa bitola de custos e ganhar mais, como se o capital fizesse geração espontânea no ar. Isso não existe. Aliás, existe, nos outros países com economias fracas e menor poder de compra. A relação entre os preços dos produtos dito básicos e os salários não é diferente nos vários países. O ganho no poder de compra advém daquilo que importamos. Um telemóvel de última geração em Portugal custa um salário mínimo. No Luxemburgo, é menos de 1/3 disso. O valor é o mesmo, mas o dinheiro "vale mais" lá.