Não tens que da nada de barato, tens que aceitar o número de escravos foi um terço menor, e este é um erro muito comum que normalmente não é cometido com outros países europeus.
Eu não disse que tu disseste que os portugueses inventaram a escravatura, mas sim que tu disseste que os portugueses inventaram o tráfico transatlântico. E na verdade este tráfico é luso-africano. A correspondência diplomática entre o reino do Congo e de Portugal mostra isto mesmo. Os africanos propuseram, promoveram e definiram as condições do negócio. Como eu disse antes a condenação moral serve para todos.
Mesmo o valor de 4 milhões merece ser lido com muito sentido crítico, porque se chegou a ele através de metodologias algo arbitrárias. A contagem é feita considerando a origem da embarcação, e não a origem da tripulação ou dos investidores. Hoje sabe-se que grande parte deste tráfico para o Caribe ou EUA em embarcações portuguesas (e mesmo para o Brasil) foi feito com tripulações e investidores estrangeiros (principalmente holandeses). Porquê a origem da embarcação é mais importante do que os investidores? Não é, mas foi mais fácil encontrar registos, mas não deixa de ser arbitrário, e deve ser contextualizado antes de se fazerem grandes proclamações condenatórias.
Outro aspecto muito importante a contextualizar é a origem de partida das embarcações. Apenas 5% das viagens do tráfico português sairam de Lisboa. Existem cidades europeias que traficaram muitíssimo mais, como Cardiff ou Amesterdão. O centro de operações do tráfico, e os seus benefícios, dos outros países europeus estavam na Europa. Na caso português estes centros estavam na cidades costeiras africanas e brasileiras, operados por luso-africanos, africanos e luso-brasileiros, com uma lógica comercial própria. Os descendentes do beneficiários materiais estão hoje principalmente nesses países. Em suma, um inglês ou holandês contemporâneo é muito mais descendente dos beneficiários da escravatura do que um português. Claro que essas cidades faziam parte do Império Português, mas considerando apenas o espaço Europeu, e os beneficiários da escravatura, Portugal europeu traficou muito menos que outros países europeus.