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Estratégia. Poder de antecipação. Empatia. Gestão de expetativas. Ambição europeia.
Em pouco mais de 24 horas, a SAD do FC Porto rasgou o manual de boas práticas empresariais e incomodou o universo azul e branco com as vendas de Vitinha e Fábio Vieira.
Dececionantes para o comum portista, naturalmente, mas também absolutamente necessárias e expectáveis, em face das desesperadas necessidades de tesouraria provocadas por anos e anos de opções desastradas.
Vamos a elas.
1 – Em outubro de 2015 – para não ir mais atrás -, o responsável pela área financeira da SAD respondeu-me a uma questão que versava a ausência de um main sponsor nas camisolas principais. Fernando Gomes afastava a preocupação, falava em «invejável saúde financeira» e garantia que o clube deixara de ter necessidade de «fazer cedências por pouco».
Tudo isto foi afirmado publicamente, na apresentação do Relatório e Contas da época 2014/15.
O cenário era, de facto, interessante. Resultado líquido positivo (19,3 milhões) e capitais próprios satisfatórios (83 milhões), apesar de um passivo global galopante (276 milhões).
2 – Um ano depois, outubro de 2016, o tom mudara. O mesmo responsável comprometia-se, de resto, a diminuir a massa salarial para os exercícios seguintes.
Fernando Gomes afirmava pretender baixar até outubro de 2019 o budget anual com salários para 55 milhões de euros – urgia, portanto, diminuir esse item em 20 milhões de euros e a SAD tinha três anos para fazê-lo.
3 – Em Outubro de 2019, a SAD não só falhara olimpicamente todos os objetivos publicitados como piorara drasticamente todos os dados importantes nas contas oficiais.
. Passivo global: subida de 276 para 409 milhões
. Capitais próprios: descida de 83 milhões para 34,8 milhões... negativos
. Resultado líquido geral: quebra de 19,3 milhões para 9,4 milhões
. Massa salarial (lembram-se?): salto de 75 milhões para 91 milhões
Portanto, a SAD falha todos os alvos financeiros a que se propõe e a consequência é... nenhuma. Explicação: a entrada de Sérgio Conceição e o regresso regular à conquista de títulos permite camuflar praticamente tudo. Mas um cadáver maquilhado não deixa de ser um cadáver.
4 – O famoso contrato milionário com a Altice. 457 milhões de euros, uma brutalidade que permitiria – dizia-se no Dragão – gerir de outra forma as expetativas desportivas.
Ora, do bolo total, o FC Porto já antecipou o recebimento de mais de 150 milhões. Por necessidades de tesouraria, claro.
5 – As saídas a custo zero de Brahimi, Herrera e Marega, as recompras por valores absurdos de Ivan Marcano e Galeno.
6 – Avancemos até ao Relatório e Contas anual mais recente, o de outubro de 2021.
Perante tantas operações de cosmética e vendas mais ou menos bem conseguidas, seria de esperar uma melhoria significativa dos resultados operacionais. Até porque, nunca é de mais recordar, o presidente Pinto da Costa teve a votação mais baixa de sempre nas últimas eleições presidenciais.
Vamos, então, a esses números:
. Passivo global: subida para 526 milhões (mais 74 milhões do que em 2020)
. Capitais próprios: 118 milhões negativos
. Resultado líquido geral: lucro de 33,4 milhões (explicado pela boa Liga dos Campeões)
. Massa salarial (lembram-se?): 92,3 milhões (era de 82,9 em 2020)
É este o cenário dramático das contas azuis e brancas. É ele a única explicação para a espatafúrdia venda de Luis Díaz - 45+15 milhões são uma ilusão, pois descontando as taxas, taxinhas e comissões entrarão pouco mais de 30 milhões nos cofres portistas – e é ele que ratifica estas saídas apressadas de Fábio Vieira e Vitinha.
Podemos falar de tudo e mais alguma coisa. Valiam mais dez milhões? Valiam menos cinco? Não é essa a discussão que me interessa, mas sim esta espiral louca de números negativos em que o clube está mergulhado.
Escrevi-o em janeiro e repito-o agora, já com os troféus do campeonato e da Taça de Portugal no Museu do Dragão: é um milagre de Sérgio Conceição que em junho de 2022 o FC Porto seja a máquina mais competitiva do futebol português.
A estratégia da SAD tem contribuido zero para esses sucessos desportivos.