O colega crê que quase oito biliões de seres humanos podem ser ricos? Ricos como os verdadeiramente ricos que o sistema produz? Não há planeta para isso. Ou será que muitos são miseráveis porque esse mesmo sistema contribui para que 1% da população mundial detenha 50% de toda a riqueza disponível? Olhe para os Estados Unidos da América, berço do capitalismo. São a economia mais poderosa do globo, têm as melhores universidades e hospitais. Não lideram um único ranking de desenvolvimento humano. Porquê? Porque a economia funciona de forma tal que apenas alguns beneficiam muito, enquanto os outros remedeiam-se ou nem isso. A desigualdade é menor nos países nórdicos, que têm economias de mercado, países capitalistas. Porquê? Porque fazem um esforço deliberado para corrigir assimetrias sociais e desigualdades produzidas pelo sistema. Inclusive através da política fiscal. É giro dizer que os países nórdicos são liberais e tal, mas diga-se também que empregam muitos mais funcionários públicos que Portugal. Que compreendem que o Estado desempenha um papel fundamental na correcção de injustiças. O que eu vejo aqui em Portugal, e muito tipicamente nas redes sociais, é o devaneio da aplicação do almanaque liberal, a mesma taxa, poucos impostos, Estados mínimos... e depois tudo se resolverá por uma qualquer magia. A realidade não funciona assim.
Não é preciso procurar muito:
Relatório. 1% da população ficou com 80% da riqueza mundial – Observador
A realidade expõe de forma gritante as limitações do liberalismo económico. De uma certa maneira de gerir o capitalismo. Quem tem capital investe, e gera riqueza, e isso é positivo para todos; daí a necessidade de baixos impostos e regulações laborais flexíveis, a pensar nas empresas e tal... . Sim. Contem-me histórias. Finjamos que não existe uma profunda desigualdade não só no país como no mundo, que a riqueza não é acumulada e, a aumentar, o que não é certo, não aumenta em ritmos estupidamente desproporcionais, o que só aprofunda o fosso. Convém que me contem mais do que isto.