Disclaimer: estou-me mais a marimbar para cores políticas ou o que seja. Não me inclino para qualquer uma delas.
Falando puramente em termos de saúde pública, estas medidas são até bem acertadas e equilibradas. Apenas causam o "incómodo" de dispender 15 minutos a ir a uma farmácia fazer um teste rápido para irem ao evento que queiram. Além disso, a comparticipação destes testes está novamente em vigor, tal como no verão. Aliás, em discotecas e bares esta medida deveria ter sido implementada há mais tempo. Para quem se preocupa muito com a economia (das duas uma, ou é dono de um bar ou discoteca, ou já só está a arranjar maneira de bater em tudo e todos), o setores que putativamente irão ser algo afetados irão receber apoios.
E para quem vem com a história da vacinação como justificação para tudo e mais alguma coisa, tentando descridibiliza-la, é esse mesmo pensamento que nos levou outra vez a este aumento de casos. Já disse isto mais do que uma vez, as vacinas originais foram feitas tendo em conta a variante predominante em 2020, antes da delta. Com o surgimento da delta, as vacinas perderam alguma eficácia relativamente à infeção, mas mantém-se alta no que diz respeito a doença grave. Mas mais uma vez, se pensarem que existem 500 mil pessoas não vacinadas, e que a efetividade da vacina na infeção é de aproximadamente 70% para infeção (2,7 milhões de pessoas que podem ser mais facilmente infetadas) e 90% contra sintomas graves (900 mil pessoas com possibilidade de ir parar ao hospital), façam as contas e vejam quantas pessoas estão ainda suscetíveis. Quando ridicularizam doses de reforço, deviam pensar nisto. Mas o que interessa é bater naqueles que, da melhor maneira possível, e abordando o desconhecido, tentam manter o barco controlado com o menor impacto possível na vida das pessoas. E se acham que mesmo assim estão mal, o que seria se a taxa de vacinação não fosse tão alta.
E muita atenção à nova variante que surgiu na África do Sul. Se for realmente preocupante, como parece ser, provavelmente a eficácia da vacina irá diminuir. Por isso, a 3ª dose é ainda mais fundamental. Mas isto é só mais uma consequência da ganância dos países mais desenvolvidos. E é um exemplo paradigmático da importância de vacinar grande parte da população mundial, mesmo os países mais pobres. Enquanto não o fizermos, teremos sempre o risco deste tipo de variantes. E quem, mais uma vez, quiser ridicularizar o aparecimento de novas variantes, é um processo semelhante ao surgimento de bactérias multiresistentes. E este sim, irá ser, no futuro, mais um problema que iremos ter de enfrentar. Aliás, aos pouquinhos já o estamos a enfrentar.