Se António Costa e o partido socialista se julgam confortáveis com os resultados da eleição e, mais do que isso, com a reconfiguração do sistema partidário que neste momento acontece, habilitam-se a ter uma surpresa muito desagradável num futuro não muito distante. Também o PS caminha para o entrincheiramento político, com a perda de relevância do PCP e as circunstâncias de mudança que empurram o PSD para a liderança de uma frente de direita, que naturalmente integrará o Chega. Ou será que Costa tenciona garantir uma maioria parlamentar sem quaisquer apoios partidários depois de milhares de mortos, milhares de desempregados, encontrando-se o país mergulhado numa crise grande económica? A sua habilidade tem limites. Ninguém beneficiará com a ascensão do Chega, a não ser o próprio Chega, interlocutor incómodo para qualquer outro agente político.
Compreendamos os desiludidos que votaram no Chega, sim, sem no entanto dedicar-lhes excessiva benevolência. São eleitores como quaisquer outros. Se muitos poderiam votar noutros candidatos e partidos, não faltará também quem julgue que os verdadeiros problemas do país são os ciganos e os beneficiários de RSI. Não conhece o país em que vive quem julga que o discurso discriminatório de Ventura não encontra partidários.
Desculpa discordar, mas eu acho que o Costa está de cadeirão a assistir a isto.
Vou mais longe e digo que o PS é o único partido que tem verdadeiro interesse que existam eleições antecipadas.
Passo a explicar:
BE e PCP tiveram resultados miseráveis o que permite adver que têm uma posição fragilizada numa futura eleição. Além disso, caso exista uma crise, muita gente não vai perdoar e culpabilizar ambos pela queda do Governo, já que foram eles quem o viabilizou inicialmente e abandonaram o barco a meio.
O PSD continua com um líder banana, vê o PS muito superior nas sondagens e um CDS a morrer aos poucos.
A IL - infelizmente - ainda não tem a expressão necessária.
O Chega é o Chega... No limite, vemos a esquerda a unir-se em torno de um voto útil no PS para evitar um governo às direita com o Chega metido ao barulho.
Chegamos ao PS. O PS está a liderar todas as sondagens até ao momento, com uma margem confortável. Pode culpar o BE e PCP pela queda do governo (caso exista) e ganhar votos à esquerda. Pode apelar ao voto útil contra o Chega. E mais importante de tudo. Daqui a 2 anos a imagem deles será bem pior do que neste momento. Os próximos dois anos serão terríveis fruto do impacto da pandemia. O pessoal não terá tanta condescendência como tem tido com os Vergonhosos casos dos ministros - Marta Temido, Eduardo Cabrita, Van Dunem, Tiago Brandão, Pedro Nuno Santos - e apontará o dedo.
Posto isto, na minha opinião o Costa está tranquilo da vida, a colocar em Xeque todos os restantes partidos. Eles ainda não montaram o tabuleiro e ele já está a passar para o jogo seguinte. Acredito também que ele adoraria o papel de vítima - que representa tão bem - caso o governo caísse.
Vamos ver o que acontece nos próximos meses.
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