Uma pergunta de um autêntico leigo:
A vacina será a solução?
Eu digo isso porque há vacina para a gripe e, no entanto, todos os anos há surtos e pessoas que mesmo depois de tomarem a vacina ficam infectados.
Bem sei que há vacinas para doenças que nos são administradas e são 100% eficazes (tétano ou varíola, por exemplo). Contudo, a vacina da gripe está longe, muito longe, de atingir valores de eficácia satisfatórios e ainda mais longe de extinguir o vírus.
Não acham que a "cura" para o Covid não passará mais pelo tratamento?
Depende do que considerares ser o principal outcome negativo do COVID-19: o efeito que tem em cada doente infetado, como doença em si mesmo, ou o efeito que tem numa comunidade com uma percentagem alta de infetados, como doença de saude publica.
Neste momento, a comunidade médica é relativamente consensual em definir como o principal efeito negativo do vírus a sua facilidade de contágio e transmissão que leva a uma massificação dos números de doentes infetados e a uma consequente sobrecarga dos serviços de saúde.
Para já, nao existem dados suficientes para quantificar as represálias em alguém que tenha sido infetado, portanto a abordagem no tratamento personalizado de um doente não é tao prioritária como a abordagem no tratamento global de saude publica de uma comunidade.
Mesmo que tenhas uma "cura" 100% eficaz, se essa exigir 3 dias de internamento e milhares de euros em medicação/cuidados, não tens neste momento capacidade para a administrar com eficácia a todos os necessitados se uma percentagem significativa da população estiver infetada. Mesmo sabendo da mortalidade baixa do vírus, que TANTAS vezes é repetida em paginas de desinformação, incluindo aqui, isso acaba por ser irrelevante no grande esquema das coisas. Vou inventar números, mas suponhamos que 5% dos infetados precisam de internamento, 1% de UCI. Se o vírus afetar 1/3 da população, tamos a falar de um universo de 4milhoes sensivelmente, estamos a falar de 200mil internados e 40mil em UCI. Podes ter a cura prontinha prontinha a administrar, mas há logística para lidar com isto?
Sabendo nós dessas percentagens baixas de necessidade de internamentos, as medidas com mais efeito neste momento passarão então prioritariamente pela diminuição no numero de infetados: vacinas ou, à falta de melhor, isolamentos/confinamentos. É o que é, não ha outra hipótese.
Mesmo que a vacina tenha apenas 75% de eficácia, ja reduzia estes números de forma tal que era possível lidar com isto nas nossas instituições sem grandes represálias na saude publica.
Conclusão, neste momento a vacina é a única forma que tens de garantir um regresso à "normalidade". Ou então o vírus, por si só, vai-se mudando e perdendo capacidade de replicação e consequentemente de transmissão/infeção, mas isso nao parece estar perto de acontecer.