Não temos que olhar para a Suécia porque somos um país completamente diferente a muitos níveis. Não existe uma estratégia milagrosa, cada país tem que tentar perceber qual a melhor estratégia para si de acordo com as suas características. A economia sueca é muito mais forte que a portuguesa, a cultura dos suecos é muito diferente da portuguesa, o ordenamento e território da Suécia é muito diferente do território português, entre tantas outras características que tornam o modelo Sueco impraticável em Portugal. Se Portugal tivesse adoptado o modelo sueco, a esta hora teríamos um número de mortos incomparavelmente superior, não temos as mesmas condições nos hospitais, a saúde dos portugueses é pior, as condições sócio-económicas são piores, etc. Basta olharmos para o estado em que ficou o SNS mesmo com lockdown, com milhares de prognósticos de cancro que ficaram por fazer, milhares de cirurgias adiadas, agora imaginem sem o lockdown, os hospitais teriam rebentado pelas costuras e tudo teria sido muito pior. O modelo sueco é apenas isso, um modelo, uma estratégia adoptada para fazer face a uma pandemia, podemos retirar dele algumas medidas e estratégias, mas não podia de todo ter sido aplicado no nosso país.
Em oposição ao modelo sueco, temos também o modelo norueguês ou dinamarquês, mais parecido com o que adoptamos em que houve lockdown, tiveram muito menos mortes e a economia contraiu ainda menos que a sueca. São um exemplo? Não, não são. Adoptaram a estratégia que era melhor para o país, evitaram mortes que a Suécia não evitou, mas também são países economicamente robustos que podem suportar um ou vários lockdowns, algo impensável em países do sul da europa.
Portugal, optou pelo lockdown quase total durante um determinado período de tempo, naturalmente com consequências terríveis para a economia de um país que depende tanto do turismo. Hoje podemos olhar para trás e perceber que se calhar poderíamos ter sido mais flexíveis, mas a verdade é que Portugal, com ou sem lockdown, ia ser sempre um dos países que mais iria sofrer pela sua dependência do turismo e aqui, com ou sem lockdown, a quebra no turismo iria ser sempre igual.
Já chegamos todos à conclusão que as consequências de um 2º lockdown em Portugal serão mais terríveis que qualquer consequência provocada pelo vírus e, portanto, convém que tenhamos a noção que estamos à mercê uns dos outros e que devemos comportar-nos como tal. Tem-se criado a ideia de que isto é um bocado mais forte que uma gripe e que a maioria das pessoas passa por isto tranquilamente e quase sem sintomas, em parte é verdade, o problema é a parte que ainda não se sabe e que se está a descobrir ou se vai descobrir a médio e longo prazo, como as lesões que estão a aparecer em pessoas que estiveram infectadas, em outros orgãos como o cérebro, coração, intestinos ou rins.