O que escreveu o jornal «OJOGO»
Jornal «OJOGO» - Edição Porto Segunda-Feira, 31 de Maio de 1999
Capa: 200 Mil aplaudiram o Penta - GRATIDÃO
EDITORIAL Rogério Gomes
PINTO DA COSTA/PEDROTO/FERNANDO SANTOS
É Azul a cor que vai marcar a passagem do milénio em Portugal, em termos desportivos. Ontem (30/05/99), no seu estádio, e no centro da cidade, centenas de milhar de adeptos festejaram a alegria da merecida conquista do Pentacampeonato nacional de futebol e ainda dos títulos nacionais de Andebol, de Hóquei em Patins, de Basquetebol e de Natação, numa época ímpar na centenária história do FC Porto.
A última época futebolística do século XX culmina uma avassaladora cavalgada pelo domínio do futebol português, que, como é frequentemente ressaltado, está indelevelmente ligado à figura de Pinto da Costa, que justifica muito bem o carinhoso e reconhecido epíteto de Penta da Costa que os Portistas não se cansam de repetir nos últimos dias.
E, como este lembra amiúde, teve início na dupla que já na segunda metade dos anos 70 tomou conta do Departamento de Futebol do clube: Pinto da Costa/José Maria Pedroto. Foram eles, chefe do departamento de futebol e treinador principal, que romperam com a tacanhez e a desorganização que durante décadas impediram o FC Porto de combater eficazmente o sistema de então e de se afirmar duradouramente no futebol português. Desde aí, a conquista de títulos e troféus veio em crescendo e a conquista do título de Campeão da Europeu (1987) e o actual Penta são apenas o ponto alto de uma história de sucessos que passaram sempre pela direcção de Pinto da Costa.
Não admira, pois, que o presidente do FC Porto tenha evocado o nome de Pedroto no jantar oficial de comemoração do Penta, na sexta-feira passada (28/05/99). O que pode surpreender muitos é que ao seu nome tenha associado o de Fernando Santos, de uma maneira que fez lembrar o completar de um ciclo. Parece, até, que Pinto da Costa reencontrou no actual técnico do FC Porto algumas das características que podem reeditar uma dupla de ferro à frente do futebol profissional do clube mais do que em outros que passaram pelo clube e que também contribuíram para esta hora de glória, como Ivic, Artur Jorge, Carlos Alberto Silva, Robson e António Oliveira.
Aliás, só podem ir neste sentido as declarações mútuas de confiança e de amizade e o facto de ambos terem declarado estarem juntos até ao fim do actual mandato do presidente do clube Azul e Branco.
E, assim sendo, poderá também estar encontrada a fonte da energia necessária para os renovados desafios que se põem ao clube. Se é óbvio que a Europa é um campo de batalha a priveligiar na próxima temporada (1999/200), pode tornar-se mais complicada a motivação de atletas, das forças internas do clube e dos próprios adeptos para a luta por mais um título consecutivo, quando todos têm a consciência de que está alcançado um feito que muito dificilmente será repetível por muitos e muitos anos.
Para encontrar um motivo realmente galvanizador, o relembrar de Pedroto e de todo o imaginário colectivo que está associado à sua memória e a sua transferência para a nova dupla Pinto da Costa/Fernando Santos pode bem ser o grande trunfo que, mesmo de uma maneira não totalmente consciente, está em marcha no FC Porto
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ATÉ JÁ Carlos Machado
FC Porto 2
Estrela 0
Árbitro: Emanuel Câmara, AF Funchal Árbitros assistentes: Celso Pereira e João Gomes
Estádio das Antas, no Porto Relvado: Muito Bom Tempo: Pouco nublado Espectadores: 48.000
FC Porto
Vítor Baía (Costinha, 83); Nelson (CA 64), Aloísio (J.M. Pinto 45), Jorge Costa, Esquerdinha; Peixe, Capucho (CA 68), Rui Barros (Carlos Manuel 57); Zahovic, Drulovic e Jardel (CA 31)
Supl. não utilizados: Chainho e Quinzinho
Estrela da Amadora
Hilário; José Carlos, Jorge Andrade Rebelo, Raul Oliveira; Kenedy (CA 37), Sérgio Marquês (Miguel 67); Pedro Simões, Stênio (Júlio 81) e Capitão (Fonseca 75)
Golos: 1-0, por Drulovic aos 38 e 2-0, por Jardel aos 66
Estatísticas do jogo
Remates: FC Porto 9 (4 para fora, 3 na direcção do guarda-redes e dois para golo - Estrela 16 (9 para fora, 2 interceptados, 4 na direcção do guarda-redes e 1 ao poste)
Posse de bola: FC Porto 26 minutos - Estrela 23 minutos
Ataques: FC Porto 34 Estrela 34
Cantos: FC Porto 8 Estrela 4
Cruzamentos: FC Porto 20 Estrela 13
Foras de jogo: FC Porto 14 Estrela 3
Tempo útil de jogo 49 minutos Tempo total de jogo 96 minutos
Em dia de festa, tudo correu conforme o esperado para os Portistas. Afinal eram eles os donos do arraial. Com o Penta assegurado desde a semana passada, os adeptos do Azul e Branco queriam fechar a época com uma vitória, se possível com pelo menos um golo d Jardel e ver Carlos Manuel e Costinha engrossarem a lista dos campeões. Apesar da boa réplica do Estrela da Amadora, que nunca se rendeu nem prestou vassalagem, tudo aconteceu conforme o desejado: a vitória não teve discussão, Jardel apontou o segundo e é rei do remate certeiro na Europa, Carlos Manuel jogou a segunda parte quase toda e Costinha dividiu com Vítor Baía a maior ovação da tarde.
No dia da consagração, Fernando Santos apresentou a sua melhor equipa, com Nelson no lugar do lesionado Secretário. Curiosamente, o lateral-direito foi o único Portista que não pintou o cabelo, o que fez dele notado, pois de outra forma
Apesar do ar sério emprestado à partida e as marcações individuais movidas pelo Estrela da Amadora muito para isso contribuíram -, o jogo estava talhado para ser de festa, como a plateia (48.234 espectadores) o exigia. Os golos demoraram a aparecer e, antes de se concentrarem na baliza de Hilário, os Portistas tiveram de se desconcentrar da equipa de arbitragem, que assinalava foras-de-jogo a torto e a direito.
Bem organizado, o Estrela da Amadora defendeu com bastante acerto excepção feita para os últimos minutos e até merecia ter saído das Antas com um golito, pois Lázaro e Pedro Simões estiveram à beira de marcar. Vítor Baía gorou os intentos do primeiro e a barra os do segundo.
Drulovic inaugura
O primeiro tento dos tetra campeões surgiu aos 38 e pertenceu a Drulovic, que recebeu um passe de Jardel, ladeou Hilário e marcou de pé
direito. Um golo há muito procurado. Pela equipa, neste jogo, e pelo jugoslavo, há muito mais tempo.
A segunda parte teve como novidade as substituições. Enquanto Jorge Jesus foi refrescando a equipa para manter a capacidade de luta da sua equipa, Fernando Santos distribuiu prémios de consolação. João Manuel Pinto entrou ao intervalo para o lugar de Aloísio, pouco depois Carlos Manuel esteve a milímetros de marcar um golo rendeu Rui Barros e a dez minutos do fim Costinha foi ocupar o lugar de Vítor Baía, que mais tarde revelaria uma invulgar capacidade para conduzir o carro-maca.
Apesar da troca de campo e de fiscal-de-linha, Capucho continuou com dificuldades para ver os companheiros dar seguimento ao seu futebol de arte. Tantas vezes as bandeirolas foram levantadas que Capucho, ocasionalmente no lado esquerdo, recebeu o passe de Zahovic e caminhou com a bola, só o oferecendo a Jardel quando já não havia hipóteses de ver a jogada abortar por interferência de terceiros.
Com um resultado tranquilo, os Portistas deixaram-se ficar à espera do final do encontro e o Estrela carregou um pouco no acelerador, acercou-se algumas vezes com perigo da área Portista, mas seriam os campeões a desperdiçar, nos minutos finais, três ocasiões flagrantes.
Tudo lógico
O FC Porto venceu o jogo com a mesma lógica com que somou mais um título à série. Foi mais forte, jogou melhor ainda que só a espaços, tal como no campeonato e marcou os golos de que necessitava. Tudo simples, fácil e justo. O Estrela da Amadora bateu-se bem, como a generalidade das equipas do campeonato, mas ficou-se por aí.
A diferença entre Portistas e a concorrência ficou expressa na tabela classificativa, que só reflecte os resultados do que se passou nos relvados. O jogo de ontem de diferente só teve a festa, a casa cheia, a emoção anunciada e não conquistada a golos. De resto foi um jogo paradigmático, que espelhou o campeonato Azul e Branco. Ficou também a promessa da continuidade, um até já, porque Agosto está aí não tarda nada.
Árbitros
Música de Câmara
Emanuel Câmara chefiou um trio de pára-quedistas que caíram na festa do Penta. Os fiscais mostraram não conhecer muito a regra do fora-de-jogo e o próprio árbitro pode alegar em sua defesa ter sido perturbado pelos acompanhantes apitou muitas vezes ao contrário. Ficou por marcar um penalti contra o Estrela. Por mão de José Carlos (34), mas nada estragava a festa.