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Com dinheiro para o carnaval.
José Monteiro da Costa transformou o Grupo do Destino em Foot Ball Club do Porto com o dinheiro que tinham recolhido para um carro alegórico.
Jerónimo Monteiro da Costa, pai de José, horticultor, era, tal como seu filho, membro da União dos Jardineiros do Porto. O fascínio do jogo que descobrira em Inglaterra fez-lhe estudar os sentidos e o coração, despertando-lhe vontade mais rija que espada de o lançar no Porto. Desconhecia que já se jogava futebol no Porto, sobretudo entre os ingleses do Oporto Cricket e do Boavista Footballers Club e que até já houvera um Foot Ball Club do Porto, fundado por António Nicolau de Almeida. Procurou o aristocrata comerciante pela cidade. Ao falar-lhe do futebol, Nicolau de Almeida sentiu um pouco do coração a aquecer-se. Faísca em paixão antiga, que só razões familiares e políticas tinham arrefecido. E, inflamado, instou Monteiro da Costa a continuar o seu Foot Ball Club do Porto. Sem esmorecer. Amigos ficaram e António prometeu envolver-se na medida do possível. Era o bastante.
Na Rua da Rainha (que com a implantação da República haveria de passar a chamar-se Rua Antero de Quental) existiam uns terrenos arrendados à Companhia Hortícola Portuense, para viveiros de plantas, mas como não eram aproveitados na sua totalidade, fácil se tornou a Monteiro da Costa conseguir a cedência ao Grupo do Destino dessa parte disponível, bem como de uma pequena e modesta casita onde instalou um vestiário e balneário ainda mais modesto. Marcar um rectângulo de cerca de 50x30 metros e espetar umas toscas balizas também não foi difícil, apesar das linhas serem traçadas a pincel molhado em cal desfeita em água. E, ainda segundo Camilo Moniz, bola havia porque o presidente do Grupo tinha trazido algumas na sua bagagem. E botas era questão de comprar umas que fossem fortes, mandar pôr-lhes umas gáspeas a reforçar e na sola umas travessas, que embora não se soubesse bem para que serviam, se aproximavam das que Monteiro da Costa tinha comprado em Inglaterra. As camisas foram feitas de um pano vermelho e forte que havia nessa época e os calções de uma espécie de ganga azul-escuro. As meias, serviram as que nesse tempo usavam os ciclistas. E foi assim que os rapazes do Grupo do Destino começaram a jogar o futebol. Ou a pensar que jogavam... «Pouco tempo depois da chegada do seu presidente, o Grupo do Destino tinha duas equipas dentro de uma caixa de fósforos; no campo improvisado da Rua da Rainha, que davam durante horas pseudo pontapés numa bola, sem terem quem os orientasse, sem progredirem, mas também sem desanimarem. E como poderiam desanimar se, exceptuando o seu presidente, nunca tinham visto jogar melhor? Quis o acaso favorecer os rapazes do Grupo do Destino. Um dia foi visitar a Fábrica de Salgueiros, para onde davam as traseiras do terreno arrendado ao Grupo do Destino, um químico italiano, Catulo Gadda. Como de lá tivesse visto saltar uma bola de futebol, não resistiu sem subir ao muro de vedação para averiguar do que se tratava... Ao deparar-se-lhe um grupo de rapazes equipados a dar pontapés numa bola (pois não se podia chamar jogar futebol ao que eles faziam), pediu autorização para entrar. Sabia disse algo daquilo.»
O pontapé do italiano que embasbacou os rapazes do Destino.
Fazendo fé no que escreveu António Martins, o primeiro secretário do F. C. Porto de Monteiro da Costa, em «O Tripeiro» de 1 de Março de 1926, Catulo Gadda «tinha sido um bom jogador num dos principais clubes da sua pátria e quando deu o primeiro pontapé deixou boquia-berta a rapaziada portuense: a bola atravessara o campo no seu máximo comprimento.... Catullo Gadda assinou ali mesmo uma proposta, ficando a fazer parte do Grupo do Destino. Como o entusiasmo daquele punhado de rapazes ia aumentando e a exiguidade do rectângulo de jogo se ia fazendo sentir, pensou José Monteiro da Costa em fundar um clube de desportos que em nada ficasse atrás dos que então existiam no País. Como sempre, se bem o pensou, melhor o conseguiu...»
Os contactos com António Nicolau de Almeida tinham-no enlaçado no entusiasmo de criar um verdadeiro clube de futebol, que já não pudesse confundir-se com um grupo de rapazes bem dispostos, na fronteira da vida lutulenta da folia ou da libertinagem. E assim, em Agosto de 1906, José Monteiro da Costa decidiu, enfim e definitivamente, refundar o Foot Ball Club do Porto. Com base no espírito do Grupo do Destino. Naturalmente. Para Camilo Moniz, «nessa ocasião foi reconhecido que a ideia era de difícil execução, pois requeria muito trabalho, muito sacrifício, bastante dinheiro e muita força de vontade para se lutar contra os muitos obstáculos que de todos os lados haviam de surgir; mas, habituados como estavam a levar a bom terreno todos os empreendimentos do Grupo do Destino, não se atemorizaram ante a grandeza deste: todos unidos eram uma força. Em face de tais afirmações, apresentou, então, Monteiro da Costa um desenvolvido estudo onde nenhum detalhe, por mais insignificante, deixou de ser previsto. Esse trabalho continha conclusões tão irrefutáveis pela sua ponderação, segurança e rapidez de execução, que se o seu autor não fosse já considerado um homem de valor extraordinário, ter-se-ia revelado como tal nessa histórica reunião».
José Monteiro da Costa transformou o Grupo do Destino em Foot Ball Club do Porto com o dinheiro que tinham recolhido para um carro alegórico.
Jerónimo Monteiro da Costa, pai de José, horticultor, era, tal como seu filho, membro da União dos Jardineiros do Porto. O fascínio do jogo que descobrira em Inglaterra fez-lhe estudar os sentidos e o coração, despertando-lhe vontade mais rija que espada de o lançar no Porto. Desconhecia que já se jogava futebol no Porto, sobretudo entre os ingleses do Oporto Cricket e do Boavista Footballers Club e que até já houvera um Foot Ball Club do Porto, fundado por António Nicolau de Almeida. Procurou o aristocrata comerciante pela cidade. Ao falar-lhe do futebol, Nicolau de Almeida sentiu um pouco do coração a aquecer-se. Faísca em paixão antiga, que só razões familiares e políticas tinham arrefecido. E, inflamado, instou Monteiro da Costa a continuar o seu Foot Ball Club do Porto. Sem esmorecer. Amigos ficaram e António prometeu envolver-se na medida do possível. Era o bastante.
Na Rua da Rainha (que com a implantação da República haveria de passar a chamar-se Rua Antero de Quental) existiam uns terrenos arrendados à Companhia Hortícola Portuense, para viveiros de plantas, mas como não eram aproveitados na sua totalidade, fácil se tornou a Monteiro da Costa conseguir a cedência ao Grupo do Destino dessa parte disponível, bem como de uma pequena e modesta casita onde instalou um vestiário e balneário ainda mais modesto. Marcar um rectângulo de cerca de 50x30 metros e espetar umas toscas balizas também não foi difícil, apesar das linhas serem traçadas a pincel molhado em cal desfeita em água. E, ainda segundo Camilo Moniz, bola havia porque o presidente do Grupo tinha trazido algumas na sua bagagem. E botas era questão de comprar umas que fossem fortes, mandar pôr-lhes umas gáspeas a reforçar e na sola umas travessas, que embora não se soubesse bem para que serviam, se aproximavam das que Monteiro da Costa tinha comprado em Inglaterra. As camisas foram feitas de um pano vermelho e forte que havia nessa época e os calções de uma espécie de ganga azul-escuro. As meias, serviram as que nesse tempo usavam os ciclistas. E foi assim que os rapazes do Grupo do Destino começaram a jogar o futebol. Ou a pensar que jogavam... «Pouco tempo depois da chegada do seu presidente, o Grupo do Destino tinha duas equipas dentro de uma caixa de fósforos; no campo improvisado da Rua da Rainha, que davam durante horas pseudo pontapés numa bola, sem terem quem os orientasse, sem progredirem, mas também sem desanimarem. E como poderiam desanimar se, exceptuando o seu presidente, nunca tinham visto jogar melhor? Quis o acaso favorecer os rapazes do Grupo do Destino. Um dia foi visitar a Fábrica de Salgueiros, para onde davam as traseiras do terreno arrendado ao Grupo do Destino, um químico italiano, Catulo Gadda. Como de lá tivesse visto saltar uma bola de futebol, não resistiu sem subir ao muro de vedação para averiguar do que se tratava... Ao deparar-se-lhe um grupo de rapazes equipados a dar pontapés numa bola (pois não se podia chamar jogar futebol ao que eles faziam), pediu autorização para entrar. Sabia disse algo daquilo.»
O pontapé do italiano que embasbacou os rapazes do Destino.
Fazendo fé no que escreveu António Martins, o primeiro secretário do F. C. Porto de Monteiro da Costa, em «O Tripeiro» de 1 de Março de 1926, Catulo Gadda «tinha sido um bom jogador num dos principais clubes da sua pátria e quando deu o primeiro pontapé deixou boquia-berta a rapaziada portuense: a bola atravessara o campo no seu máximo comprimento.... Catullo Gadda assinou ali mesmo uma proposta, ficando a fazer parte do Grupo do Destino. Como o entusiasmo daquele punhado de rapazes ia aumentando e a exiguidade do rectângulo de jogo se ia fazendo sentir, pensou José Monteiro da Costa em fundar um clube de desportos que em nada ficasse atrás dos que então existiam no País. Como sempre, se bem o pensou, melhor o conseguiu...»
Os contactos com António Nicolau de Almeida tinham-no enlaçado no entusiasmo de criar um verdadeiro clube de futebol, que já não pudesse confundir-se com um grupo de rapazes bem dispostos, na fronteira da vida lutulenta da folia ou da libertinagem. E assim, em Agosto de 1906, José Monteiro da Costa decidiu, enfim e definitivamente, refundar o Foot Ball Club do Porto. Com base no espírito do Grupo do Destino. Naturalmente. Para Camilo Moniz, «nessa ocasião foi reconhecido que a ideia era de difícil execução, pois requeria muito trabalho, muito sacrifício, bastante dinheiro e muita força de vontade para se lutar contra os muitos obstáculos que de todos os lados haviam de surgir; mas, habituados como estavam a levar a bom terreno todos os empreendimentos do Grupo do Destino, não se atemorizaram ante a grandeza deste: todos unidos eram uma força. Em face de tais afirmações, apresentou, então, Monteiro da Costa um desenvolvido estudo onde nenhum detalhe, por mais insignificante, deixou de ser previsto. Esse trabalho continha conclusões tão irrefutáveis pela sua ponderação, segurança e rapidez de execução, que se o seu autor não fosse já considerado um homem de valor extraordinário, ter-se-ia revelado como tal nessa histórica reunião».