Texto de Avelino Oliveira
Parece ser unanime que Zaidu entrou na restrita lista dos jogadores do Porto que são um pouco mal amados pelos portistas. É uma lista que tem alguns exemplos de embirração adepta, mas que também está recheada de casos de sucesso.
Não esqueçamos que o que distingue o adepto portista dos outros adeptos não é a sua relação de idolatria com os seus melhores, é antes a relação de respeito com aqueles de quem temos dúvidas relativamente à meritocracia de envergar a maravilhosa camisola azul e branca.
Para o portista, se um jogador estiver em campo com o nosso equipamento e se o suar de cima a baixo, não pode, não deve, não será maltratado.
Zaidú está na berlinda e neste início de época é visto por todos como o elo mais fraco da equipa.
Ninguém lhe pede mais fôlego, mais empenho ou mais esforço. Pedimos, isso sim, mais concentração e indagamo-nos sobre o talento do rapaz.
O jogo de Famalicão e a chalaça do Conceição sobre a difícil relação do Manafá com os dias soalheiros veio colocar ainda mais o foco na posição defensiva do lado esquerdo e nos respetivos protagonistas.
Às vezes basta um minuto para o copo encher, um homem perder a cabeça, dar um murro no vinílico, barafustar com o engenheiro, em suma, ficar lixado como o caraças.
E como a culpa dificilmente fica para solteirona, o fervor clubístico tanto escolhe rapidamente os seus amores como elege os seus vilões. Assim, quase que num repente que se adivinhava, Zaidu tornou-se no jogador que ficou menos colado ao coração da malta. E é logo à segunda jornada que a pressão está colocada no abnegado atleta. Hoje é ele mas no passado foram muitos. De memória lembro-me bem de alguns que vi jogar: o Lima Pereira, o Semedo, o Edmilson, o Mariano González, o Marega, o Herrera e até o Sérgio Oliveira. Curiosamente, a grande maioria acabou por conquistar o reconhecimento portista. E as razões são as melhores do mundo – porque nós somos mesmo diferentes.
A queda ao inferno portista é rara e nunca por causa de uma perda de bola ou de uma jogada infantil. E disso são exemplos o Argel ou o Maicon, que saíram pela porta pequena porque desrespeitaram os valores portistas e não por terem feito nenhuma falha técnica.
Por isso, é importante recordar dois aspetos, em primeiro lugar, o verdadeiro dragão não assobia um jogador nosso que esteja em campo – deixamos essas atitudes para os nossos adversários (perguntem ao Calado que foi humilhado até pedir para o substituírem ao intervalo). Em segundo, que ninguém faça julgamentos precipitados, porque temos um maravilhoso historial de “Cinderellas Men”, onde o minuto 90 na luz do Herrera ou o golo do Sérgio Oliveira em Turim são exemplos paradigmáticos.
Dito isto, sou daqueles que preferia ver o Zaidu posicionar-se defensivamente como deve ser, cobrir a ala como mandam as regras, não ir de frente à bola de forma inapropriada, fazer faltas inteligentes quando é preciso e evitar sarrafadas desnecessárias que são autênticas prendas ao adversário. E sou dos que anseia por um reforço do plantel nesta posição.
No entanto, que ninguém sentencie o fim da carreira do Zaidu no nosso clube, porque, como diria Mark Twain, o anúncio dessa morte é manifestamente exagerado.
Está no nosso sangue acreditar que há jogadores inacabados, que se afirmam um pouco mais tarde. Quem sabe se o nigeriano não nos surpreende!