William Bourdon, advogado de Rui Pinto, concedeu uma entrevista à revista alemã Der Spiegel, na qual fez o ponto de situação sobre a detenção do denunciante português do Football Leaks, detido em Lisboa desde 22 de março e ainda sem qualquer acusação formalizada. O prazo para a sua libertação acontece nos próximos dias, caso o Ministério Público não deduza acusação.
Ainda sem acusação: “É uma especificidade da lei portuguesa. Mas é incomum ter alguém detido por tanto tempo sem uma acusação formal. Para além disso, contradiz completamente o que é esperado e requisitado pelo Parlamento Europeu, pela Comissão Europeia e pela sociedade civil. O consenso é de que a proteção aos denunciantes tem de ser aumentada.”
Evolução da investigação e alegadas provas de outros crimes, como invasão informática a políticos e sociedades de advogados: “As investigações são mais ou menos secretas em Portugal. Em França, poderia facilmente obter uma cópia do processo, mas há um nível de restrição em Portugal que não facilita o trabalho de um advogado. O mandato de detenção respeitava o Princípio da Especialidade, só podia dizer respeito a determinadas questões e não a acusações de forma generalizada. Pergunto-me se as autoridades portuguesas sabiam dessas outras acusações desde o início. Se sabiam, porque não as incorporaram? Há a suspeita de que o Princípio da Especialidade pode ter sido violado.”
Cooperação com as autoridades portuguesas: “Que eu saiba, só um pequeno interrogatório.Ele reiterou a sua vontade em colaborar, abriu essa porta, mas as autoridades portuguesas ainda não a utilizaram. Isto leva-nos a um paradoxo histórico: já foram pagas enormes multas e outras serão pagas no futuro por jogadores, agentes e clubes. Há inquéritos a decorrer nos próximos meses, que envolvem atividades criminais no futebol e, ao mesmo tempo, Rui Pinto continua preso. Os suspeitos cujas atividades deveriam ser investigadas foram poupados. Isto é absurdo.”
Alternativas à detenção: “As autoridades podem libertá-lo sob princípios legais rígidos que não lhe permitem abandonar Portugal e que o obrigam sempre a reportar ao juiz. Não há absolutamente qualquer risco, como por vezes existe noutras situações, de que o Rui vá intimidar ou perturbar a investigação. Na Alemanha, França, Inglaterra ou Itália, o Rui nunca seria detido com base nestas acusações.”
Franceses tentaram incluir Rui Pinto num programa de proteção de testemunhas: “Foi algo considerado, mas colapsou com a detenção.”
Visita das autoridades russas: “Tentaram incriminá-lo, mas ele recusou colaborar com a Rússia.”