(Un)Fair-play financeiro da UEFA com fim anunciado?
Iniciado em 2011, o fair-play financeiro da UEFA poderá ser abandonado. Segundo noticiou anteontem o jornal italiano “La Gazzetta dello Sport”, a instituição mais relevante do “desporto rei” europeu deverá comunicar proximamente um novo sistema de controlo financeiro, que proporcionará aos clubes liberdade mais alargada em relação aos gastos.
Como sustentáculo desta directiva, a ser confirmada a breve prazo pelo presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, está a crise causada pela pandemia da covid-19, que deixou os departamentos financeiros da maioria dos clubes em grandes dificuldades.
Fair-play financeiro e o FC Porto
O F. C. Porto tem estado sob jugo do fair-play financeiro da UEFA desde 2017, algo que lhe tem causado condicionamentos ao nível do investimento na janela de transferências, bem como a contingência de reduzir o número de jogadores inscritos nas competições europeias.
Já por inúmeras vezes o presidente Pinto da Costa manifestara a confiança de que os dragões respeitarão todas as obrigações impostas, que pretendem levar até ao fim do plano de controlo financeiro da UEFA, algo que deverá ocorrer no término da presente época desportiva. Com estas possíveis alterações, essa convicção torna-se ainda mais plausível.
A confirmar-se esse cenário, de maior desafogo, as renovações desejadas de Sérgio Conceição e Marega poderão avançar com mais vigor, juntando-se aos contratos já prolongados de Pepe, Sérgio Oliveira e Otávio.
(Un)Fair-play Financeiro
A anulação (pelo Tribunal Arbitral do Desporto em Julho de 2020) da penalização de dois anos de participação nas competições europeias imposta ao Manchester City, por quebra das regras do Fair Play Financeiro, descredibilizou totalmente algo que pretendia ser uma garantia de maior paridade entre os diversos clubes (“tubarões” multimilionários e os restantes). O castigo perdoado provara que as regras deste mecanismo são absolutamente infrutíferas. A injecção monetária maquilhada da família real do Abu Dhabi aos “Citizens” não sensibilizara este tribunal superior, parecendo mais interessado em fomentar o futebol dos investimentos faraónicos.
O mecanismo de Fair Play Financeiro, gizado na era do “justiceiro”” Michel Platini, não caminhou para o ideal de justiça. Os poucos pontos positivos (como a tentativa de impedir o endividamento excessivo das instituições, subordinando os orçamentos ao potencial de gerar receita) nunca foram suficientes para tecer loas a este sistema.
Não pretendo iniciar uma cruzada anticapitalista no futebol (neste texto pelo menos). Advogo sim que o “beautiful game” deveria assegurar que os canais percorridos pelo dinheiro não são tão insalubres, como actualmente inúmeras vezes acontece. O que o Fair-play financeiro potenciou foi um desporto mais permissivo ao dinheiro não gerado estritamente pelo negócio futebolístico puro, como é o caso da “moeda sheik” do Abu Dhabi e Catar, que dão vida a City e Paris Saint-Germain. É relevante perceber se o dinheiro investido no futebol foi obtido de forma limpa. Posteriormente acompanhar o seu percurso, a “sua paternidade” e o seu destino final.
São precisamente estes novos potentados unfair, como o City e PSG, que a UEFA vem protegendo. Felizmente ainda sem títulos internacionais. Esperemos que depois do (Un)fair-play financeiro não sejam criados mecanismos ainda mais injustos e perniciosos, travestidos de algo que preconize boas prácticas.