Que a situação financeira do FC Porto é péssima, já todos sabemos, e de tanto o saber, acabamos por achar normal, o maior de todos os perigos – porque ficamos sem filtros para novos sinais de alerta, que não param de surgir, por muito que nos custe. E quando estes alertas nos aparecem no final de uma época desportiva quente, preferimos pensar na festa boa do fim de campeonato do que na festa terrível que nos espera no fim deste mandato.
Com um Pinto da Costa que teve o mérito que todos conhecemos, agora bastante cansado e muito mal acompanhado, nos últimos anos a situação do clube está aceleradamente a passar de difícil para insustentável e há de haver algum dia um ponto sem retorno, em que nada que se faça resolve os problemas, pelo menos sem vender o clube. O mais recente sinal de alerta é o lançamento de outro empréstimo obrigacionista, primeiro de 40 Milhões de euros, para rapidamente ser expandido para 50 M€. Tudo isto com uma taxa de 5,25% (quase 4% líquidos, ainda mais alto do que o empréstimo do ano passado), bem acima daquilo que o mercado pratica, o que os especialistas atribuem ao risco associado à operação.
Risco para os investidores, claro – mas para o clube também, porque quando não for possível adiar mais o pagamento de obrigações, como o clube tem feito em certas situações, o FCP fica na mão dos credores e pode ver-se obrigado a vender-se a algum oligarca ou sheik árabe, para mais a preço de saldo.
“Preferimos pensar na festa boa do fim de campeonato do que na festa terrível que nos espera no fim deste mandato”
Para já, a direcção colocou o prazo de pagamento em 2025, bem para lá do fim do mandato. Conveniente e confortável, alguém que pague as contas depois, seja quem for. Adia-se, empurra-se com a barriga e transfere-se os problemas para outros. E a verdade é que a gestão tem levado a uma situação financeira de tal forma cáustica que já fica difícil criticar as vendas de Díaz e possivelmente de Vitinha e Taremi, porque a situação de liquidez será tão dramática que tudo se justifica para poder pagar salários e manter a operação em andamento, sem sustos maiores.
Entretanto, os candidatos a candidatos avolumam-se. Baía, Villas-Boas e Rui Moreira sondam, almoçam, consideram, manifestam-se interessados. Mas sobre a essência do clube e sua sustentabilidade, nem uma palavra, só sorrisos e fotografias, ou silêncios estratégicos. O receio de importunar a Direcção é maior do que a verdade que interessa aos associados e apaixonados pelo FC Porto: estar preparado para o futuro e ter capacidade de devolver a mística.
No meio de tudo isto, o que é perigoso é que nos habituamos a esta situação e não temos muitas vezes a capacidade de perceber que esta “normalidade” de declínio permanente , além de prejudicar a gestão e impedir a recuperação sustentável do clube, ameaça verdadeiramente o futuro do mesmo. Aquele que damos por assumido como o último mandato parece ser um terrível fim de festa, com prejuízos que podem estar para além daquilo que antecipamos.
No entanto, mais do que colocar o dedo na ferida, interessam soluções. Considero que é essencial um projecto estruturado e sustentável a 10 anos, e um plano de financiamento que resolva a dívida e torne a operação possível de realizar sem a chantagem da liquidez e da dependência extrema dos empresários, os novos credores. O projecto estruturado deve conter uma estratégia que inclua novas fontes de rendimento (há benchmarks interessantes noutras latitudes), o estádio cheio todos os jogos sem exceção (pricings dinâmicos) e outros fatores de gestão contemporânea e competente, e não de gestão das aflições e das dívidas e comissões. E tudo isto deve começar com uma auditoria externa, completa, independente e descomprometida com a actual gestão.
Um projecto estruturado a 10 anos e uma solução macro de financiamento associada não resolve todos os problemas, mas sem ela nada se resolve.
Artigo de Opinião: Pedro Barbosa, Empresário, Docente Universitário, Associado do FC Porto