Acabou o Portugal vs Alemanha e muito pior que o resultado (que já por si é muito mau) é a “pouquidade” que se percebe na selecção. Não de talento que esse temos para “dar e vender”, mas de tudo o resto. E como já o tinha feito no jogo contra a Hungria, não consigo deixar de imaginar o que seria esta selecção treinada pelo Sérgio Conceição.
Nunca, mas mesmo nunca tivemos uma selecção com tanta qualidade. Não discuto se noutros momentos tivemos vários jogadores “gigantes”. O que afirmo e o que acho indesmentível é que nunca tivemos tantos jogadores de “top” disponíveis para jogar por Portugal. Basta ver o número e a qualidade dos que ficam de fora e que se tiverem de entrar podem mesmo acrescentar algo e não só remediar. Aliás, duvido que neste Europeu haja uma outra selecção com tantos jogadores de nível superior. E mesmo assim o que fica é uma enormíssima sensação de desperdício. Mas não só. Fica também a certeza dum incompreensível medo, de uma inexplicável falta de arrojo e, acima de tudo, da tão tradicional falta de carácter. Esta míngua de personalidade e intensidade transforma uma equipa que, normalmente, devia ser avassaladora numa selecção “poucochinha”.
Triste, muito triste mesmo, é que tudo isto pode e deve ser entendível pelo normal Português porque, “ao fim e ao cabo”, tudo aquilo não deixa de ser a a imagem de marca da “tugalândia”. Sim, o Português, pelo menos no seu “habitat natural”, Portugal, pode ser muito talentoso, pode ser muito capaz, mas colapsa num marasmo anódino porque tudo neste País está feito para nos amarfanhar, para nos constranger, para nos tolher numa massa amorfa e inerte. E depois, de vez em quando, lá surge alguém que se destaca, que se despe deste entranhado quebranto e brilha. E o normal “tuga” divide-se, então, entre o exagerado orgulho por um deles se ter da mediocridade libertado (quase como se tivesse contribuído de alguma forma para aquele sucesso) e a ancestral e quase instintiva inveja por tudo aquilo que o êxito normalmente oferece.
Mas se é entendível para o normal “tuga”, há um tipo de Português que se recusa (pelo menos no futebol) a entender esse repulsivo conforto na trivial pequenez: o Portista. Nós até podemos compreender uma derrota, mas não concebemos nem admitimos a falta de garra, de coragem, de intensidade. E esse é o primeiro passo para não sermos obrigados a compreender assim tantas derrotas.
Aliás é esse “upgrade” de exigência, essa natural disposição para a competição, esse desprezo pela desistência, essa recusa em temer a confrontação que nos dá aquele “plus” que os “não Portistas” não têm, não compreendem, temem e não podem, pura e simplesmente reconhecer, porque isso seria atestar a sua própria menoridade.
E voltamos ao princípio e à razão destas linhas: o Sérgio. Alguém que sendo, mental e temperamentalmente, muito mais Portista que Português (felizmente), assusta a “nacional pequenez” que tenta disfarçar o indisfarçável, o temor em falso desdém. Temor que é aproveitado até à exaustão por quem, ilicitamente, domina o panorama comunicacional e institucional do futebol português (o benf…os coisos) para promover essa linha de argumentação que lhe é tão essencial. Obviamente alicerçados num espírito lisboeta que de tão ilegitimamente dominante, subjuga o resto de Portugal e torna a ilusão, a fachada e a promessa fácil em valores aparentemente superiores à verdade, à dignidade e à coragem.
Aliás esse medo de tão indisfarçável, torna quase transparente a falácia da argumentação usada contra o Sérgio. Normalmente, usam algo como: “técnica e tacticamente é muito bom, mas o seu comportamento é intolerável”. Primeiro e para assegurar credibilidade, aceitam (renitentemente, percebe-se) o que lhes seria quase impossível contestar: a competência. Assegurada a validação pelo elogio, partem para o que realmente lhes interessa desmontar: o carácter. Bem sabendo que é esse o nível que nunca alcançarão, aproveitam-se da entranhada, mas aparentemente apreciada mansidão geral dos Portugueses (também promovida porque os mantém e sustenta) para denegrir a (mui nobre) capacidade que ele tem de veemente e ostensivamente se indignar com as iniquidades que contra nós são praticadas. O que lhe criticam, no fundo, é não se ficar, não se vergar e não se resignar às reiteradas tentativas de alterar a verdade desportiva e de nos faltarem ao respeito. O que eles não compreendem é que a forma do Sérgio reagir mais não é que a legítima, natural e apropriada resposta às ofensas que são feitas contra ele e contra nós. Sim, porque neste país de cobardes que permitem placidamente toda a espécie de abusos, o que não precisamos mesmo é de mais “punhos de renda”. O que não precisamos é que nos imponham, ainda mais, um “respeitável” código de conduta que mais não é que um hino ao servilismo. Não confundam boa educação com medrosa fleuma. Só podemos e devemos ser “bem educados” com quem o merece. Pelo contrário, com quem faz da afronta e da violentação a sua forma de agir, a resposta dos bem formados só pode ser a indignação veemente e ostensiva.
Sérgio, a tua forma de reagir não é, de forma alguma, um sinal de ausência ou de menor educação. Não, de forma alguma. Isso é o que, obsessivamente, nos pretendem fazer acreditar. As tuas reacções temperamentais e intensas são, na realidade, a verdadeira prova da tua visível, sólida e magnifica formação. Corolário do imenso carácter que te motiva e ampara e que tu, implacavelmente, emprestas à equipa. Na certeza que o Portismo é tanta coisa, mas que nada será sem o “nosso” carácter.
E volto à questão que residualmente me atormenta: o que seria a nossa actual selecção treinada pelo Sérgio Conceição?
Texto de Carlos Garcez Osório
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