Que o futebol português e a sociedade portuguesa estão recheados de xenófobia, não é novidade. Que os casos de racismo e violência gratuita se repetem diariamente entre os adeptos, não é novidade. Que há dirigentes a semear o ódio, não é novidade. Que a Liga nada faz e se limita a exibir t-shirts para fazer frente a todos estes problemas, não é novidade.
Como todos os dias somos surpreendidos pela negativa, eis que há um clube grande – que está cada vez mais pequeno – que decide meter toda a sua falta de vergonha num artigo de opinião lançado no site oficial do clube. Tito Arantes Fontes, no alto do seu poleiro, refere-se a Mehdi Taremi como um “farsante, um autêntico encantador de serpentes”. Como se não bastasse, lembrou-se, sabe-se lá porquê, de referir a nacionalidade do avançado do FC Porto, dizendo ser “um homem vindo da Pérsia, sempre preparado para os seus habituais números circenses”. Aliar a nacionalidade do jogador a números circenses, parece-me, já que estamos numa de artigos de opinião, tudo menos inocente.
Ao longo do texto publicado no site oficial do Sporting, Tito refere-se várias vezes a Taremi como “farsante”: “este domingo, o ‘farsante’ apresentou-se com o seu melhor fato de mergulho… o azul e branco! A multidão não gosta de ‘encantadores de serpentes’, ainda que vindos da Pérsia“, escreveu, referindo-se ao iraniano como “mergulhador fetiche” de João Pinheiro, árbitro da partida em Guimarães.
Antes da chegada ao FC Porto, foi público o interesse do clube de Lisboa em Mehdi Taremi. O avançado viria então a recusar jogar de verde – e de vermelho – para vestir de azul e branco. Tal recusa parece ainda fazer moça na mente perversa de alguns “puros” que se acham melhores que o comum dos mortais.
O Tito diz que o “Sporting assusta muito”. Não amigo Tito, o que “assusta muito” é este tipo de opiniões. O que assustou o Sporting foi o Sporting de Braga e o Santa Clara. O que assustou o Sporting foram os seis pontos perdidos nestes dois jogos em 15 dias. Quando a competência não dá para mais, vem ao de cima o desespero, espelhado neste tipo de opiniões.