Futebol

Sporting, o Campeão de Lisboa

Ponto prévio, dei os parabéns aos meus amigos Sportinguistas por duas razões essenciais.

A primeira prende-se com a sua tenacidade e resiliência. Compreendo as paixões pelos clubes da terra, pelo que simbolizam e por uma carga local que, na minha opinião, todos deveríamos dar às opções clubísticas (por exemplo, sem o enjoativo e vulgar nacional-benfiquismo, teríamos um campeonato muito melhor). Mas é difícil compreender como sobrevive o sportinguismo, e esta resistência e amor ao clube deve merecer respeito.

A segunda razão é desportiva e interessa mais. Apesar de considerar que quase nunca jogaram à “campeão”, que devem ter o recorde mundial de jogos ganhos em cima da hora na mesma época, que, tal como o Benfica de Lage, não são derrotados no campeonato mas não conseguiram dignificar Portugal no exterior, tenho de admitir que a vitória em Braga teve um significado muito relevante e valeu muito mais do que os 3 pontos. Nessa jornada não ganhar em Braga poderia ter sido fatal e, com menos um jogador desde cedo no jogo, o Sporting fez o mesmo que em muitas outras partidas, marcou na única grande oportunidade que teve. Em Braga precisaram de mostrar uma raça especial e isso merece um aplauso de reconhecimento.

No entanto, não é por serem campeões que devemos falar de uma vitória “sem margem para dúvidas” ou “totalmente merecida”, como vi escrito em muitos sítios.

Para os Sportinguistas tanto se lhes dá, ganharam ao fim de 19 anos, nesta altura só pensam em festejar. Como referi acima, os fãs merecem e o futebol, não o Covid, agradece a festa, temperada com Moet Chandon, como afirmam orgulhosamente os adeptos com ligação especial ao eixo Sintra-Cascais.

Como adepto do melhor clube português nas provas da UEFA, que alcançou o patamar dos 8 melhores da Europa, única equipa na Europa que colocou sérios obstáculos aos dois finalistas da Champions (Chelsea só perdeu contra o Porto e City venceu todos os jogos menos no Dragão), sinto o direito de protestar em plena festa verde.

E protesto começando por dizer que a competição não foi limpa e que este grande representante de Portugal na UEFA foi vilipendiado em vários jogos, com destaque para o baile de Carnaval promovido pelo figurante Hugo Miguel em Moreira de Cônegos e que descrevi aqui: https://www.fcporto.ws/o-crime-de-conegos-e-a-lavandaria-de-lisboa

Já tínhamos visto várias exceções que beneficiam o clube de Lisboa, como por exemplo os jogadores com limite de amarelos que não são suspensos por subterfúgios jurídicos que (segundo os regulamentos) têm consequências desportivas (terão?). Adeptos dentro do estádio a cantar durante um jogo à porta fechada. Tratamento diplomático ao treinador mesmo depois de insultar tudo e todos num camarote durante o tal jogo de Braga, algo que contrasta com a chacina pública do Sérgio Conceição por se pegar com outro treinador, ou por confrontar um árbitro. Mas ontem vimos outra exceção, pois pelo menos as famílias dos jogadores do Sporting estavam em massa nos camarotes do estádio a cantar e apoiar. E no exterior… bem, no exterior era difícil dizer que não a quem foi campeão passados 19 anos. Foi, em suma, um jogo especial, um jogo de festa, fora das regras que os outros têm de cumprir. Outra vez. Ainda se fosse o Braga (vamos ver na final da Taça), agora o Sporting de e em Lisboa, foi difícil certamente dizer que não e fazer cumprir o que é legalmente imposto.

Abriram a exceção, aguentem agora a pressão pública por causa disso. Respondam à malta dos concertos, dos partidos ou da restauração, que não podem juntar 100 ou 1000 pessoas.

Há um ano, no dia 15 de Julho de 2020, alguns, poucos, adeptos do FC Porto foram impedidos de festejar mais um campeonato nos Aliados. O contexto era outro, mas 200 adeptos foram corridos a cassetete. 200!!

Este ano, com a devida autorização e organização das autoridades (ecrã gigante, autocarros, circulação planeada mas livre) a festa foi de arromba.

Poderá o leitor dizer que a culpa foi da pandemia.

Não, a culpa é de Lisbogal.

A 15/7/2020, data da festa proibida dos adeptos do Porto, havia quase metade dos casos ativos de anteontem, 11/05/2021, aquando do regabofe que todos vimos em Lisboa.

É só mais uma das muitas histórias sobre Lisboa e o seu protetorado que esgana todo um País em seu benefício, neste caso, no futebol.

Alberto Araújo Lima