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Sérgio Conceição: “Os meus adjuntos até perguntaram se tinha tomado um calmante”

Em entrevista ao site da UEFA, o treinador do FC Porto falou sobre a sua maneira de ser e estar no futebol, recordando uma vitória dos dragões em casa do rival Benfica.

Abaixo a entrevista completa publicada no site da UEFA

 

Sempre se interessou pelo aspecto táctico do jogo que o levou mais tarde a enveredar pela carreira de treinador?

Sempre tive uma paixão enorme pelo jogo. Enquanto jogador, sempre fui muito cumpridor daquilo que me era pedido dentro de campo. Lembro-me de encaixar como uma luva no futebol italiano precisamente por isso, por seguir à risca o que o treinador me pedia, apesar de por vezes eu não gostar muito. Já então tentava perceber o porquê de ter de cumprir certas tarefas englobadas no modelo de jogo que o treinador pretendia implementar. Eu era curioso, mas sem nunca aprofundar nada.

Até que ponto é importante essa experiência enquanto jogador quando mais se tarde se faz a transição para treinador?

Hoje em dia parece que está na moda ser treinador. É importante a experiência de balneário, a capacidade de olhar para os jogadores e captar alguns sinais mesmo quando eles não o exprimem por palavras. Esse conhecimento adquirido dentro do balneário é importante, mas é preciso muito mais do que isso para se ser um treinador. Hoje em dia o papel de um treinador evoluiu de tal maneira que é impossível apenas agarrar-se nessa experiência enquanto jogador. É preciso estudar muito e perceber que ser treinador é muito mais do que meramente organizar uma unidade de treino.

É realmente especial jogar em ambientes como o de Ibrox ou o estádio do Feyenoord?

É fantástico. É o tipo de pressão que toda a gente gosta de ter. Eu adoro quando entro em estádios que estão cheios de adeptos que vibram com os jogos e que sentem paixão por aquilo a que estão a assistir. Adoro esses ambientes e é algo a que sempre fui habituado enquanto jogador do FC Porto. Eu acho que quem não tiver capacidade para jogar nesse tipo de estádios e com essa pressão inerente não pode ser jogador profissional de alto nível.

Uma palestra que se tenha destacado das demais durante a carreira de treinador…

Eu sou uma pessoa extremamente emotiva e aquilo que sou na minha vida passo-o para o futebol. Acho que não podemos nunca dissociar o homem do treinador. Há um momento marcante, até por essa característica que eu tenho de ser muito emotivo e que não se revelou nessa altura. Cheguei a pensar para mim próprio: “não é normal estares tão calmo numa palestra antes de um jogo”. O encontro em causa foi quando defrontámos fora o Benfica há dois anos e vencemos com um golo aos 90 minutos. Foi uma palestra diferente do que eu estava habituado a fazer. Lembro-me de passar a mensagem que queria passar aos jogadores, mas de uma forma muito mais calma do que o habitual. Os meus adjuntos até me perguntaram se eu tinha tomado algum calmante.

Há algum segredo para um treinador conseguir lidar com os diferentes egos e personalidades dos jogadores?

Aquilo que eu faço é tratar todos os jogadores de forma igual e eles sabem que têm diante de si um homem genuíno, que faz as coisas a pensar que é o mais justo e o mais correcto para o grupo. Não é fácil, até porque as coisas mudaram muito nos últimos anos. Os jogadores têm mais pessoas a acompanhá-los. Têm a sua família, os seus empresários e depois também há esta nova moda das redes sociais. Por vezes é complicado gerir esse tipo de situações. Já disse várias vezes que o mais difícil é manter 25 jogadores motivados e concentrados para que quando sejam chamados respondam à altura. Penso que temos feito um bom trabalho nesse sentido.

O que é para si um dia perfeito longe do futebol?

Vou dizer uma banalidade, mas é a verdade. Um dia perfeito é estar com a família e que no dia anterior a minha equipa tenha ganho. Gosto, por exemplo, de ir buscar o meu filho à escola e de ir a um restaurante com a minha família se tiver um dia de folga. No fundo, trata-se de partilhar momentos durante esse dia que muitas vezes não temos oportunidade de o fazer durante a semana. Dito isto, para mim é impossível desligar-me completamente do futebol. Mesmo nos dias de folga falo meia dúzia de vezes com os meus adjuntos e com outras pessoas ligadas ao clube. É um dia de folga, mas na realidade já estamos a preparar os próximos dias. Até quando estamos de férias estamos empenhados em preparar a época seguinte. Nunca estou verdadeiramente desligado do futebol.