FC Porto

Sérgio Conceição o Odiado. Odiado por quem Odeia o Porto

É normal assistir a incidentes vários num jogo de futebol, seja dentro das quatro linhas do campo, seja fora do recinto desportivo. É próprio do calor do jogo, de fortes emoções, provocando diversas vezes o descontrolo emocional de quem participa no espectáculo.

Quando se trata de protagonistas do FC Porto, o incidente será sempre elevado a um patamar de escândalo planetário, quiçá galático. De carácter excepcional, bizarro, desfasado e deslocado da realidade (dos comportamentos humanos e da especificidade da própria modalidade).  

É óbvio para todos que Sérgio Conceição “ferve em pouca água”, já pudemos assistir às mais variadas peripécias. Mas excetuando os excessos verbais, não me recordo de ver o Sérgio Conceição passar das marcas, agredindo fisicamente por exemplo, ou não se desculpabilizando, olhos nos olhos, junto daqueles com quem se “abespinha” momentaneamente quando tal acontece de forma injusta no seu entender.

Sérgio é assim, e todos o sabem. Não é desculpar. É factualizar.

Para resolver os excessos dos vários protagonistas “entram em campo” as regras. As expulsões, as multas e as eventuais suspensões sobre as quais o FC Porto tem experiência sobeja. Vamos contextualizar o incidente:

Após Paulo Sérgio ter reclamado da marcação da falta (claríssima) que deu origem a mais um golaço do “Jogas Tanto” Sérgio Oliveira, o míster Conceição respondeu nestes termos: “Agora queres mandar nos árbitros? Tens a mania que mandas nesta m… toda. És um palhaço!”

Depois entra o golo e a picardia continuou resultando no conflito verbal televisto por todos.

Após este incidente, em declarações ao jornal “A Bola”, o Presidente do Olhanense (clube treinado por Sérgio no passado) falou sobre o timoneiro portista:

“É normal ter acontecido, o Sérgio Conceição vive intensamente os jogos e também os treinos, sempre foi assim, mesmo como jogador. Não gosta de perder nem com os filhos, quanto mais os jogos. Mas depois, quando passa toda a agitação, aquilo serena tudo e por norma ele pede desculpa. E isso é muito importante. É o ADN dele, mas é uma pessoa extraordinária…”, elogiou Isidoro Sousa, que não vê o treinador portista a mudar essa forma de viver a competição: “Aquilo acaba, arrefece e fica tudo bem. Mas ele é assim e vai continuar a ser assim. Não é por mal, tem o coração ao pé da boca e diz logo o que lhe vai na alma”.  “Em situações idênticas que tivemos no Olhanense, o Sérgio nunca colocou a mão em ninguém”.

Nestas declarações vemos quem é Sérgio Conceição.  Não vale a pena invocar mais nada sobre um dos (já) melhores treinadores portugueses de todos os tempos, designadamente sobre as suas (boas) acções na vida pessoal, que ele próprio mantém sob um certo anonimato e na esfera privada.

Conceição será certamente castigado, tal como Paulo Sérgio. Outros também o foram no passado. Alguns, como Jorge Jesus, castigados por actos bem mais graves como confrontarem fisicamente agentes identificados da PSP que procuravam travar uma invasão de campo de adeptos. Jesus apanhou 4 jogos de suspensão.

Mas pelo seu comportamento, Jorge Jesus podia ter sido sancionado pelos eventuais crimes de resistência e desobediência à autoridade pública (punido com pena de prisão até cinco anos) e ofensa à integridade física dos agentes policiais. Que se saiba até hoje ficou por punir algo que todo o País viu em directo.

Serve isto para dizer que nunca vi um julgamento público sobre Jesus, qualquer outro treinador ou figura do futebol, como no verdadeiro linchamento que procuram regularmente fazer de Sérgio Conceição.  E todos se esquecem de um outro facto muito relevante.

Quem não se lembra da recente série de jogos em que o FC Porto não ganhou para o campeonato? Quem não se lembra das dificuldades? Das expulsões de Díaz e Corona? Do atropelamento de Nanu? Do festival de pancada do Pizzi? De um Palhinha não expulso contra o Porto, nem amarelado há várias jornadas apesar de ser o jogador com mais faltas da 1ª liga. É até um acontecimento inaudito, um jogador que devia ter sido suspenso por limite de cartões amarelos… mas continua a não o ser por um suposto erro processual. Onde está a verdade desportiva em Portugal quando comparada com as provas da UEFA, onde os adversários do Porto tombaram com estrondo?

Tudo isto contribui para a estabilidade emocional. Ou para a falta dela. Mas tudo isto fica escrito. E não será esquecido!

O Porto está habituado a ganhar assim. Faz parte da sua história. No final não nos reconhecem como melhores, mas na verdade, a superioridade nacional e europeia já é estrutural e vai continuar a ser, porque o clube tem uma enorme capacidade de germinar personalidades como Sérgio Conceição. Odiado por quem odeia o Porto.

Texto: Alberto Araújo Lima