O agente Marcelo Gomes relatou que Fernando Madureira e Hugo Polaco foram vistos a roubar pulseiras de uma caixa próxima das hospedeiras. Polaco terá então distribuído as pulseiras no balneário e a outros indivíduos fora das câmaras de CCTV, incluindo Hugo Loureiro.
Na área de credenciação, “Macaco” indicava o local, no início da fila, para as pessoas que o abordavam. O agente também mencionou Vítor Catão a fazer gestos de decapitação para as pessoas na fila e a abanar as grades. Um vídeo de Carlos Jamaica também mostra Vítor Catão a barrar o acesso de jornalistas da SIC ao Estádio do Dragão.
O agente encarregado da investigação dos eventos iniciais da AGE afirmou que vários dos arguidos não eram sócios, não tinham feito a acreditação e entraram na AGE. Citou o caso de Fábio Dias, que, inserido num grupo, se meteu na fila. O segurança mandou-os sair, mas “eles foram ter com Fernando Madureira, que lhes indicou como passar, e assim o fizeram, sem dar qualquer explicação”, relatou Marcelo Gomes, observando que a SPDE “não controlava nada”. Contudo, admitiu que não ouviu os responsáveis pela segurança da AGE, como o diretor da SPDE e o diretor de segurança do FC Porto.
Preencher o auditório para aprovar os estatutos
O propósito das ações e do plano conjunto dos arguidos seria “encher o auditório, com capacidade para 300 ou 400 pessoas, de pessoas de sua confiança para que os estatutos fossem aprovados”, concluiu o agente da PSP do Porto, mencionando vídeos que mostram os arguidos a entoar cânticos de apoio ao FC Porto, no início da noite, num auditório já repleto. O agente também corroborou a ideia de que havia um plano, citando mensagens dos grupos dos Super Dragões que indicavam a necessidade de se fazerem presentes e a incitação à violência: “é porrada neles”.
Susana Mourão, advogada de Vítor Catão, questionou o agente sobre a chegada do seu cliente ao local, e o agente confirmou que Catão se movimentou de forma independente, cumprimentando várias pessoas ao longo do caminho. O agente descreveu Catão como “um sócio influente”, mas não conseguiu afirmar se Catão assistia aos jogos ou se se deslocava com os Super Dragões.
A advogada de José Pereira também questionou o agente sobre a alegação de que o seu cliente não era sócio do FC Porto. Adélia Moreira afirmou que o seu cliente era sócio e que até recebeu a roseta de prata de 25 anos de sócio no ano anterior. O agente corrigiu a informação, explicando que não podia provar que não era sócio, apenas que não se havia acreditado na noite da AGE.
Quando questionado se apenas os indivíduos ligados aos Super Dragões tinham passado à frente da fila, e lembrando que também Villas-Boas teria feito o mesmo, Marcelo Gomes admitiu que outros também o fizeram. Adélia Moreira questionou como a aprovação dos estatutos se inseria no plano, uma vez que as agressões provocaram o encerramento da AGE. Marcelo Gomes afirmou que não podia afirmar que as agressões a Henrique Ramos eram parte do plano.
Cristiana Carvalho, advogada de Fernando Saul, recordou que o agente citou mensagens do seu cliente admitindo ter agredido Henrique Ramos, mas que se confirmou que a agressão ao sócio portista foi, na verdade, de Tiago Aguiar. Marcelo Gomes afirmou que Fernando Madureira e Fernando Saul se conheciam há muitos anos, uma vez que Saul havia pertencido à claque, e que agora mantinham uma relação devido ao seu papel como oficial de ligação aos adeptos. A advogada destacou que no processo apenas havia uma mensagem entre os dois, que era de Fernando Saul a afirmar que Pinto da Costa não deveria se candidatar. Marcelo Gomes explicou que havia algumas falhas no telemóvel de Saul e que algumas mensagens não foram recuperadas.
António Caetano, advogado de Fábio Sousa, também questionou que provas levaram o agente a afirmar que o seu cliente fazia parte do plano. “Aparecia nas imagens”, foi a resposta do agente. O advogado destacou que as imagens eram das alegadas agressões à família Sousa e questionou como isso indicava que Fábio fazia parte do plano. O agente não respondeu e não conseguiu explicar por que o arguido estava acusado de todos os crimes em coautoria.
Francisco Duarte, advogado de Hugo Loureiro, “Fanfas”, questionou por que a investigação não considerou importante ouvir Lourenço Pinto, assim como não ouviu os diretores de segurança da SPDE e do FC Porto. “Não considerou pertinente ouvir os responsáveis pela organização da AGE para apurar a responsabilidade das falhas”, concluiu o advogado.
O advogado do casal Madureira questionou por que algumas pessoas que passaram à frente eram relevantes para a investigação criminal e outras não, mencionando especificamente André Villas-Boas. Marcelo Gomes explicou que não tinham percebido que o agora presidente do FC Porto havia passado à frente, “pois naquela área a fila estava aberta, ainda não estava com fitas”.