Época atrás de época temos vindo a assistir à degradação triste da situação financeira do nosso clube, camuflada não raras vezes com opacidades convenientes e episódicos sucessos desportivos, mas sobretudo com um sentido de lealdade e agradecimento para com o Presidente.
O sentido de gratidão eterna a Pinto da Costa não o inibe nem deve inibir de responsabilizar esta direcção e anteriores da situação a que o clube chegou, com uma sustentabilidade cada vez mais em perigo. E são essas pessoas e respectivas famílias que devem estar forra das escolhas do futuro do nosso clube. O FC Porto precisa de pessoas idóneas e descomprometidas com o passado da sua gestão, directa ou indirectamente.
O FC Porto caminha para ser campeão para felicidade de cada um de nós, mas como entidade e organização, caminha para o abismo, há vários anos. Os resultados apresentados esta semana com mais um prejuízo são apenas uma gota de continuidade no desastre financeiro do clube.
Hoje, o nosso Porto procura sobreviver, num emaranhado de ligações com agentes e de custos financeiros que o tornam simplesmente insustentável. Quem vier a seguir vai ter de ser capaz de levantar um financiamento de proporções gigantescas e ao mesmo tempo proceder a uma limpeza significativa em processos de gestão que parecem muito pouco saudáveis. Isto tudo sem vender o clube, nunca se esqueçam.
Para isso, é essencial garantir que quem lá está e quem lá esteve não lá fica. Seja quem forem as próximas alternativas, que não estejam comprometidas com o passado e permitam auditorias, planeamentos com projecto, financiamento e estabilidade. Precisamos também de grande experiência em gestão, um Portismo inabalável, uma equipa com diversidade e um Conselho Superior mais forte e interventivo para garantir que nunca mais ficamos sujeitos a uma dependência de direcções que liderem com agendas próprias.
Com um passivo acima dos 500 milhões de euros, temos de ser nós a garantir que a ninguém passa pela cabeça vender o clube ao controlo de um cheque árabe ou magnata russo, ou qualquer oportunista na sombra. E isso, por muito que pareça impossível, pode aparecer como uma solução quando menos esperarmos, porque será a “única solução” nessa altura. E não, nenhum de nós a deve aceitar – nem hoje, nem nunca. O Porto é nosso e temos de saber construir lógicas para o tirar do abismo, juntos. Custe o que custar, mas sem cedências.
É evidente que para que isso aconteça tem de haver pensamento divergente, discussão de ideias, novas equipas, mas depois trabalho comum e conjunto, sem facções nem fricções. E tem de ser um trabalho conjunto que tem de ter em comum uma equipa sem os atores que fizeram o clube chegar onde chegou, a impossibilidade de venda do clube e um projecto sólido com enorme capacidade de fundraising e de gestão.
Na próxima geração do clube, é importante alargar o orgulho para além do plano desportivo, incluir todos: dos Super Dragões aos notáveis, dos ex-jogadores aos atletas, dos sócios históricos aos jovens, do Portal dos Dragões aos Super Portistas, sendo capaz de não depender de agendas particulares, nem de interesses anteriores. Sangue novo, descomprometido do passado e interessado num futuro com o FC Porto sempre sustentável e saudável.
Artigo de Opinião: Pedro Barbosa, Empresário, Docente Universitário, Associado do FC Porto