(No momento em que escrevo esta crónica estou verdadeiramente emocionado. Escorrem lágrimas pelo meu rosto. Como nos bons velhos tempos. Somos Porto!)
Tentarei ser o mais frio e racional possível na análise ao jogo.
Os antecedentes
A missão era muito complicada. Desde a realização do sorteio do playoff que todos antecipamos as dificuldades. A Roma não é uma equipa qualquer. Os trinta minutos da 1ª parte da 1ª mão evidenciaram a superioridade da Roma, em termos individuais e durante esse período de tempo, também foi mais forte no plano colectivo.
A expulsão de Vermaelen permitiu ao Porto mudar o rumo do jogo na 2ª parte, na qual dominou as operações mas apenas conseguiu empatar o jogo. 1-1. Este resultado obrigava o Porto a marcar em Roma.
Todos sabíamos que o Porto estava limitado no seu plantel, tanto em qualidade como em quantidade, ainda em processo de construção, consolidação de processos e procura de identidade, com poucas soluções no banco para dar a volta aos acontecimentos, caso as coisas começassem mal.
Pelo que, só o melhor Porto em termos de atitude, raça, garra, posicionamento táctico, estratégia, concentração, entre tantos outros aspectos, poderia levar de vencida a Roma, ou garantir o apuramento.
O jogo
As equipas:
ROMA: Szczesny; Bruno Peres, Manolas, De Rossi, Juan Jesus; Paredes, Strootman, Nainggolan; Salah, Dzeko e Perotti.
FC PORTO: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo, Herrera, André André; Corona, Otávio e André Silva.
Nuno Espírito Santo mudou o sistema de jogo, relativamente ao encontro da 1ª mão. Em vez do 4x4x2 clássico, o Fc Porto surgiu no Olímpico no seu 4x3x3 tradicional. A intenção e necessidade de marcar golos estava plasmada no onze inicial.
Restava saber como é que os dragões iriam equilibrar as operações a meio-campo, sector no qual a Roma pareceu ser muito forte no Dragão.
1ª parte – “Exibição Perfeita”
A Roma foi a primeira equipa a criar perigo com um remate de Nainggolan, logo no 1.º minuto. Casillas defendeu para canto.
Mas foi o Fc Porto quem entrou melhor no jogo. Diria mesmo: muito melhor!
Os sistemas das duas equipas encaixavam na perfeição. Ambas em 4x3x3. Enquanto a Roma apostou em De Rossi como defesa central e optou por colocar Paredes no meio-campo, quanto a mim, mal porque desviou o seu jogador mais importante da zona nefrálgica do terreno, o Fc Porto entrou sem qualquer tipo de receio. Um 4x3x3, altamente pressionante!
Herrera, André André, a pressionar no último terço contrário! A ganhar inúmeras bolas no miolo do terreno, uma equipa compacta que conseguiu ter bola e não deixar jogar a Roma. Foram 30 minutos fantásticos, perfeitos de um verdadeiro colectivo. Uma equipa a fazer lembrar o Fc Porto dos velhos tempos, que tantas alegrias deu aos adeptos.
O golo de Felipe, aos 8 minutos, foi um prémio justo. Tanto para o jogador (que fez um jogão hoje e tinha marcado um auto-golo na 1ª mão) como para a equipa e para o treinador. Nuno Espírito Santo revelou coragem e o discernimento que distinguem os treinadores vulgares dos bons treinadores e transmitiu para o grupo algo muito importante: não ter medo de perder, de arriscar!
A Roma acusou o golo madrugador e o Porto dominou por completo os trinta minutos da 1ª parte. Equipa solidária, unida, a jogar de pé para pé, a asfixiar a Roma logo no seu meio-campo e muito seguro a defender. Uma verdadeira equipa.
A partir dos 30 minutos, o Porto perdeu um pouco de gás. A pressão e intensidade diminuíram, o bloco recuou no terreno. A Roma criou (finalmente) perigo através de um remate de Salah. Casillas salvou com uma grande defesa (36 minutos).
Parecia que os papéis se tinham invertido relativamente à partida da 1ª mão. No Dragão, a Roma foi gigante nos primeiros 30 minutos. No Olímpico, foi a vez do Porto mostrar o seu fulgor na primeira meia hora.
Aos 38’, Rossi teve uma entrada duríssima sobre Maxi Pereira. O árbitro polaco Szymon Marciniak não hesitou e mostrou vermelho a De Rossi! Inteiramente justo!
Agora repetia-se o filme do Dragão! Porto em superioridade numérica e desta vez em vantagem no marcador. Pedia-se “cabeça” aos jogadores do Porto para aproveitar esta dupla vantagem e enervar o adversário.
Spalletti fez entrar Emerson e tirou Paredes, o elemento de menor rendimento do meio-campo da Roma.
Nesta 1ª parte, absolutamente perfeita, só temos de lamentar a lesão de Maxi Pereira. Até ao intervalo, o Porto fez circulação de bola e controlou as operações.
2ª parte – “Primeiro estranha-se… depois MATA-SE o jogo!”
O Porto entrou no segundo tempo, como terminou a primeira. Tentar circular a bola, privilegiar a posse, fazer correr os jogadores da Roma. Tudo a correr bem. Só faltava a decisão no último terço do terreno.
Quando todos esperávamos que esta toada se mantivesse… Emerson Palmieri tem mais uma entrada a matar. Desta vez sobre Corona. Uma vez mais, o árbitro polaco não teve contemplações, não pensou (como tantas vezes acontece em Portugal) “não posso mostrar outro vermelho à equipa da casa”… simplesmente manteve o critério e expulsou o defesa brasileiro.
Aos 50 minutos, ficavam 11 contra 9! Tudo a nosso favor. Spalletti deixa a equipa a jogar com 3 defesas porque de facto tinha de arriscar!
Aos 54’, boa jogada de Corona, André Silva e remate de Otávio que saiu ao lado.
Talvez por Otávio ter amarelo, Nuno Espírito Santo tirou o brasileiro e fez entrar Sérgio Oliveira (56’). De imediato pensamos: o treinador quer ter o controlo do jogo, ter a bola. Mas verdade seja dita: não gostei da substituição. Não acho que tenha resultado. Sérgio Oliveira viu, mal entrou, amarelo e seguiu-se o pior momento do Porto no jogo.
Dos 57’ aos 72’, a Roma deu o seu máximo, o tudo por tudo para chegar à igualdade. Nainggolan fez um jogaço, Perotti é um grande jogador e esta dupla foi quem criou mais perigo junto da baliza de Casillas. Destaco a oportunidade da Roma com Bruno Peres a cruzar e Perotti quase desvia para a baliza. Valeu Layún a cortar (57’).
No minuto seguinte, Spalletti tirou Dzeko (homem de área) e apostou em Iturbe. Aposta total na vertigem da velocidade.
O Porto mantinha o seu sistema e alternava uma tentativa de pressão alta, com o recuo do bloco assim que a Roma conseguia ultrapassar os homens da frente (dos dragões).
Aos 65’, entrou Adrián e saiu André Silva. E aos 72’, o Porto “fecha o jogo e eliminatória” com uma jogada de contra-ataque.
O “forcing” da Roma deixava um grande buraco na sua defesa, Herrera aproveita, faz grande abertura para Layún. O mexicano, isolado, sobre o lado direito, com muita calma contorna Szczesny e chuta para a baliza deserta!
3 minutos depois, ainda estava a festejar, Corona dispara para 3-0! Lindo golo!
Jogo resolvido, Porto garantia a Champions e até final controlou a contenda, perante uma Roma rendida. Julgo que o Porto terminou em 4-4-2, com Sérgio Oliveira a fechar na esquerda e André André a fazer companhia a Adrián na frente de ataque.
Em suma, foi uma vitória brilhante, por números surpreendentes. O triunfo do Porto não merece qualquer contestação e nem as expulsões podem servir de argumento ou atenuante para a Roma. O Porto foi superior enquanto estiveram em campo 11 contra 11.
Este triunfo faz lembrar tempos antigos. Foi uma vitória do crer, do carácter, do colectivo. Foi uma vitória à Porto, que ganha quando menos se espera. Temos de admitir… as nossas probabilidades eram reduzidas mas fizemos das fraquezas FORÇAS! Tal como acontecia na década de 80.
Chegamos à Liga dos Campeões sem Brahimi, Aboubakar, Depoitre, com muitas limitações no plantel (em termos de quantidade) e a preparação da equipa/mercado muito atrasada!
Desculpem mas esta noite… o grupo de trabalho liderado por Nuno Espírito Santo fez história!
Pontos positivos:
- A entrada do Porto em campo. Sem medo, ao ataque, em busca do golo. A pressão alta. Hoje o Porto foi uma GRANDE EQUIPA, a defender e a atacar.
- Nuno Espírito Santo. Escrevi que tinha errado na 1ª mão com o 4x4x2 clássico. Hoje, acertou em cheio e tem o mérito de ter incutido na equipa o espírito do Porto. O “Somos Porto” esteve presente.
- O meio-campo do Porto. Tantas vezes criticado, desta feita o trio Danilo, Herrera e André André revelaram-se GIGANTES no pressing sobre Paredes e Strootman. Também estiveram bem quando foi preciso circular e apostar na posse de bola.
- Felipe. Que jogão! Mesmo com faltas desnecessárias, hoje foi o verdadeiro XERIFE!
- Nainggolan. Lutou, correu, rematou. Deu tudo. Que grande jogador.
- Szymon Marciniak. O árbitro mostrou grande coragem e aplicou as leis do jogo sem olhar às cores das camisolas nem ao factor casa.
Pontos negativos:
- As entradas duríssimas de De Rossi e Emerson.
- A lesão de Maxi Pereira.
- Spalletti. Julgou que tinha o jogo/eliminatória ganha. Retirou De Rossi da zona onde melhor sabe jogar e onde pode desequilibrar. Perdeu, claramente, no jogo táctico para Nuno Espírito Santo
- As entradas de Sérgio Oliveira e Adrián. Revelam a fraqueza do Porto neste momento: falta alguma qualidade e profundidade ao plantel. Os suplentes têm de ter valor semelhante aos titulares. Neste momento, isso ainda não acontece em todas as posições.
Os jogadores:
Casillas – Duas belas intervenções. Sempre atento. Apenas detectei uma reposição de bola precipitada (passe à queima para Felipe)
Maxi – O azarado da noite. Espero que a lesão não seja grave. Enquanto esteve em campo, cumpriu a sua obrigação.
Felipe – O melhor do Porto. Pelo golo e por todos os cortes que fez. Finalmente temos um Patrão na defesa!
Marcano – Não… não é o mesmo jogador do ano passado. Este Marcano está tão sereno que não comete erros!
Alex Telles – “Levou” com Bruno Peres e Salah. Cumpriu a defender e conseguiu ajudar a equipa no momento ofensivo.
Danilo – De volta às grandes exibições. O tanque à frente da defesa que tanto precisamos.
Herrera – Grande jogo! Pelo pressing sobre Strootman, pela circulação e posse de bola (falhou menos passes) e esteve na origem do golo decisivo (abertura para Layún)
André André – Foi uma carraça. Deu o litro. Pressionou na grande área do adversário. Em termos tácticos foi de grande importância. O jogo pedia um jogador com as suas características. Esteve muito bem.
Corona – Um golo para coroar uma exibição muito conseguida e esforçada. Nem sempre ganhou nos duelos, nos dribles mas deu muito trabalho aos defesas contrários (que iam diminuindo à medida que o tempo passava).
André Silva – Desta vez não marcou mas provou que é um avançado “moderno”. Pressiona alto e consegue ser, assim, o primeiro defesa do Fc Porto. Saiu, julgo, pelo desgaste acumulado nos últimos jogos.
Otávio – Irreverente, sempre a tentar desequilibrar. Foi dele o cruzamento para o golo de Felipe. Esteve perto de marcar aos 54 minutos.
Layún – Ora à esquerda, ora à direita. O mexicano tem muita qualidade. Sólido a defender, tem grande facilidade em percorrer o flanco e foi assim que carimbou a passagem do Porto, ao marcar o segundo golo do encontro.
Sérgio Oliveira – Má entrada no jogo. Amarelo e passes falhados. Precisamente o contrário do que o treinador queria. Os golos trataram de acalmar o jovem portista.
Adrián – O avançado espanhol teve uma oportunidade para marcar mas… nem sequer rematou. Numa noite de glória não quero escrever mal de nenhum jogador portista.
Nota final: esta não foi a melhor crónica que fiz. Mas foi aquela que mais gozo me deu escrever em toda a minha vida (já escrevi várias para o clube da minha terra, o Beira-Mar, do qual sou sócio).
Dedico este texto a todos os membros do fórum fcporto.ws. O espaço da internet mais duro e implacável, onde só sobrevivem os mais fortes, os mais inteligentes, os mais lúcidos. Aqui não há paninhos quentes. Há PORTO! E enquanto existir PORTO nós estaremos aqui, neste espaço, para fazer deste clube sempre MELHOR! A cada dia…
Força Portoooo!
Tenho muito orgulho em ser Portista!