Futebol

Quando Sérgio se sentiu no céu

Regressou em 2004, voltou a ser campeão e marcou à equipa de Rui Vitória na estreia. Nuno era o guarda-redes do FC Porto

 

 
Por Alberto Barbosa

O extremo direito, que tinha feito um jogo de sonho frente à Alemanha e já dava o nome a um estádio, deixou a Lazio para regressar às Antas, marcando a Rui Vitória na estreia. Fez o último jogo com a camisola do FC Porto já no Dragão, na tarde da despedida de Secretário e no mesmo dia em que McCarthy fechou um “hat-trick” com um pontapé de bicicleta. Regressa agora como treinador, depois de ter dado asas ao Nantes e de fazer voar os “canários” do 19.º até ao sétimo lugar da liga francesa.

Quando, à 17.º jornada, Sérgio Conceição assumiu o comando técnico do Nantes, os “canários”, em risco de despromoção, ocupavam a 19.ª e penúltima posição do campeonato francês, com apenas 13 pontos. Cinco meses e 22 jornadas depois, o agora treinador do FC Porto despedia-se da Ligue 1 deixando o Nantes no sétimo posto, a um lugar do acesso à terceira pré-eliminatória da Liga Europa. Com o 13.º maior orçamento entre as 20 equipas que disputaram a liga francesa, Sérgio acrescentou 38 pontos às contas do Nantes num período em que só o Mónaco, o PSG, o Nice, o Lyon e o Marselha somaram mais pontos do que a equipa da costa oeste.

Sérgio Conceição dá, desde 17 de novembro de 2002, o nome ao estádio de Taveiro, em Coimbra, a cidade onde nasceu. Durante a cerimónia de inauguração, o treinador do FC Porto, à altura jogador do Inter de Milão, disse ser “uma honra e um enorme prazer” ver o seu nome associado à infraestrutura, enquanto a vereação do Desporto da Câmara Municipal de Coimbra justificava o batismo com o facto de Sérgio ser “o atleta conimbricense com melhor palmarés internacional”. Dois anos antes, em Roterdão, com uma exibição assombrosa e um hat-trick, Sérgio Conceição tinha tirado a Alemanha do caminho de Portugal no Europeu de 2000 e deixado Oliver Kahn à beira de um ataque de nervos.

Sérgio Conceição marcou 11 golos com a camisola do FC Porto, com a particularidade de ter apontado o primeiro e o último em jogos da Taça de Portugal. Mas há mais: num e noutro encontro, os Dragões venceram por 4-0. O primeiro contra o Varzim, a 11 de fevereiro de 1997, e o último frente ao Vilafranquense, a 21 de janeiro de 2004, na estreia absoluta depois da saída e regresso às Antas, que encerra mais duas curiosidades: na baliza do FC Porto estava Nuno Espírito Santo, o técnico a quem sucede, e no banco do Vilafranquense sentava-se Rui Vitória, hoje treinador do Benfica. “Senti-me no céu quando entrei no estádio. Um regresso destes é sempre emocionante”, assumiu Sérgio no final da partida.

No FC Porto, enquanto sénior, começou a jogar nas Antas, mas foi no Dragão que se despediu, a 9 de maio de 2004, quando Benni McCarthy fez um hat-trick concluído com o requinte de um pontapé de bicicleta, deu a volta ao jogo (3-1) da última jornada, em que o Paços de Ferreira entrou praticamente a ganhar, e consagrou-se como o melhor marcador da Liga na tarde em que Secretário se despediu. Já treinador, volta de novo ao Dragão, mas foi o estádio da estreia que mais o marcou. “O velhinho Estádio das Antas era magnífico”, disse ao jornal Ouest France em março deste ano.

Desde que em julho de 1998 saiu para a Lazio e de lá voltou em janeiro de 2004 passaram cinco anos e meio, período em que representou também o Parma e o Inter, além do clube de Roma, e trabalhou com treinadores como Sven-Göran Eriksson, Arrigo Sacchi, Héctor Cúper e Roberto Mancini, de quem não ficou com grandes saudades. O FC Porto resgatou-o em Itália para integrar o plantel que viria a sagrar-se campeão europeu quatro meses depois, mas Sérgio Conceição não participou na campanha que durou até Gelsenkirchen, e só terminou com a conquista do troféu, por já ter disputado a fase de grupos da edição de 2003/04 da Champions com a camisola da Lazio, depois de ter afastado o Benfica na terceira pré-eliminatória da competição, com vitórias no Olímpico de Roma e na Luz. “Venho para o FC Porto, não para fazer a ponte para o Europeu, mas para jogar, ganhar o campeonato e a Taça de Portugal. Também serei um adepto na bancada, porque não posso jogar a Liga dos Campeões”, disse na altura.

Depois de despontar na Académica, Sérgio Conceição concluiu a formação nos Sub-19 do FC Porto. Enquanto profissional, representou dez clubes diferentes, de Portugal à Grécia, passando por Itália, Bélgica e Kuwait. Dos 13 títulos que conquistou ao longo da carreira, seis foram com a camisola do FC Porto: três Ligas portuguesas, uma Taça de Portugal, uma Supertaça de Portugal e um Campeonato Nacional de Juniores A.

Sérgio vestiu a camisola do FC Porto 89 vezes e a estreia oficial aconteceu aos 66 minutos de uma Supertaça que ficou célebre, não tanto pelo que se passou naquela tarde de 18 de agosto, nas Antas, mas pelo que se passaria um mês mais tarde, na Luz, em dia de aniversário de Jardel. Quando, com 21 anos, substituiu Edmilson no decorrer da segunda parte, Domingos já tinha feito o único golo da primeira mão, mas na segunda, em Lisboa, Sérgio Conceição acabaria por participar nos 90 minutos de uma goleada histórica (5-0) construída por Artur, Edmilson, Jorge Costa, Wetl e Drulovic.

Sérgio Conceição participou no ciclo do pentacampeonato marcando dez golos em 77 jogos nas épocas do “tri” e do “tetra”, sempre sob a orientação do treinador António Oliveira.

Texto publicado na edição de junho de 2017 da “Dragões”, a revista oficial do FC Porto, a cuja versão digital pode aceder aqui.