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«O prazer de jogar à Porto» – Uma crónica de Paulo Baldaia e que vale a pena ler

Vale a pena ler esta crónica de Paulo Baldaia intitulada “O prazer de jogar à Porto” e que foi publicada na edição de domingo (27 de outubro) no jornal “O JOGO”.

“Não vale a pena imaginar que é possível incutir em jogadores acabados de chegar ao Dragão, muitos deles já a pensar em dar o salto para campeonatos mais competitivos e mais bem pagos, a ideia de que dá prazer jogar à Porto. Há uma mística que um jogador/adepto ou um jogador da formação conhece bem e que não se ensina, sente-se! Não estou a crucificar nenhum jogador. Percebo que o futebol atual é uma indústria milionária em que todos os jogadores têm direito a sonhar alto e a tornarem-se eles próprios milionários. Mas ou jogam com garra e vontade de ganhar todos os jogos ou vão passar ao lado de uma bela carreira.

O que aconteceu na quinta feira, e não pode acontecer hoje contra o líder do campeonato, foi “não haver prazer em jogar futebol”. Isso é que Sérgio Conceição não pode tolerar. Só ele pode saber como se dá a volta a esta tristeza e, portanto, é ele que tem de fazer alguma coisa para que a exibição contra o Famalicão faça dispersar as nuvens cinzentas que pairam na relação entre os adeptos e a equipa técnica, mais os jogadores que nos representam dentro do campo. Há coisas que apertam o coração. Onde foi parar o prazer de ter a posse de bola durante quase dois minutos, fazendo 44 passes, dando 87 toques, passando por todos os jogadores, inclusive Marchesín, no jogo contra o Benfica? O que se passa com esta equipa, que jogo após jogo aflige os adeptos com a incerteza do resultado e, cada vez mais, com a tristeza do futebol jogado?

Tenho de insistir na minha tese. Com o que vejo, e tendo em conta a necessidade de fazer milhões com a venda de passes de jogadores, não cometam o erro de considerar excedentários jogadores que foram campeões europeus e campeões nacionais de sub19. Não procurem acertar contas com os passes desses jogadores. Por exemplo, o prazer que Fábio Silva ou Romário Baró têm em jogar com a camisola do Futebol Clube do Porto faz deles elementos indispensáveis para o presente e, sobretudo, para o futuro. O prazer que os adeptos têm em vê-los jogar é igualmente algo que tem de ser tido em conta. A lista de jogadores da formação é bastante maior, mas isto não significa que bons são apenas os da casa. Chegados agorinha mesmo e que dá prazer ver jogar, Marchesín e Díaz são também exemplos para confirmar que a atitude conta.

Regressemos ao final do recente jogo no Estádio da Luz. O jogo de melhor memória desta época em que acumulamos resultados desastrosos (Gil Vicente, Krasnodar, Feyenoord e Rangers) com exibições fraquinhas. Esse jogo, como outros na época passada, provou que o FC do Porto também sabe trocar a bola, progredir no terreno diminuindo o risco de perda de bola, jogar bonito e com eficácia. É isso que esperam os adeptos, uma equipa que tenha orgulho no futebol que pratica, que acredite sempre na vitória, que não trema quando adversários bem mais fracos se atiram para cima do FCP, porque saberão que quando se atreverem a tal, isso só pode significar que vão com meia dúzia para casa. É isto o prazer de jogar à Porto. Pelo menos visto da bancada!”