Crónicas

Nótulas Futebológicas: Identidade de Conceição domina Jesus receoso.

O FC Porto parte em vantagem para a segunda mão das meias finais da Taça de Portugal, num resultado que peca por escasso, tendo em conta a superioridade dos dragões. A pouca precisão no tiro e a inspiração de Rui Patrício, “padroeiro de luvas” que voltou a ser o melhor leão do encontro, explicam a vantagem mínima.

Jorge Jesus engendrou uma contra estratégia condicionante, mais preocupada em contrariar os pontos fortes do adversário (jogo exterior seguido de cruzamento e profundidade dos avançados na zona central) do que em potenciar aptidões próprias.

Nessa lógica, estruturou um raro bloco médio/baixo com cinco defesas. Zona central protegida “a três” (com Piccini a juntar-se à dupla habitual) mais dois laterais sem sair do “refúgio táctico” (Ristovski lançado “às feras” e Coentrão quase sempre tolhido). Os dois médios, Battaglia (muitas vezes quarto central) e Bruno Fernandes (recuava para pegar jogo), nunca se impuseram. Acuña sobre o lado esquerdo e Gelson pronunciadamente em zona central no apoio a Doumbia desenharam um 5x2x3 assimétrico, com a esquerda ocupada e a direita por ocupar (pedindo deambulações de dentro para fora do criativo português).

Sérgio Conceição manteve-se fiel à sua abordagem preferencial, não se socorrendo do terceiro médio puro, muitas vezes necessário contra oponentes de potencial equivalente. Herrera e Sérgio Oliveira numa harmonização sectorial com e sem bola (sai/fico, pressiono/equilibro), tocaram uma sinfonia perfeita de posicionamento, dinâmica, leitura de jogo e qualidade técnica.

A pressão alta de Marega e Soares (primeiros defesas), coadjuvada com o controlo da largura pelos extremos Corona e Brahimi (secundados pelos laterais em aproximação), condicionaram a primeira fase de construção do Sporting, que tinha dificuldade em soltar os laterais e dialogar com os médios

O mexicano laborou mais em zona interior do que o usual (abria aquando da aproximação de Ricardo), pretendendo criar superioridade numérica na sobrepovoada defesa leonina. Brahimi, em diagonais interiores, cedia o corredor a Alex Telles e coligava bem com a subida dos elementos do meio campo.

O golo da vitória é exímio para explicar o risco ofensivo dos visitados e o “bunker” estratégico leonino. Quinteto defensivo mais Battaglia em alerta “anti-aéreo”, com Bruno Fernandes e Acunã nas imediações. Movimento ofensivo com seis portistas (avançados e laterais) em zona de definição e Sérgio Oliveira a construir. Gelson, numa marcação levezinha ao português, não impede o cruzamento em arco para a cabeçada precisa de Soares (saltou entre Ristovski e Piccini).

Jesus foi à procura do resultado sem resgatar o jogo. Acabou em 4x2x4, já com Montero perto de Doumbia, Rubén Ribeiro a vadiar e Bruno César como médio ofensivo (recuara Bruno Fernandes). A expulsão de Acuña condicionou a reacção final.

Sérgio Conceição não alterou, trocou avançados por avançados, deixando Marega cumprir os noventa minutos. Saíram para refrescar Corona, Brahimi e Soares dando vez a Otávio, Hernâni e Gonçalo.

Na preparação da segunda-mão, Jesus não deverá tanto “olhar por cima do ombro”, mas sim discutir o jogo explorando o seu manancial (já provado em muitos jogos) de recursos. Os cinco defesas tornaram a equipa curta no momento pós recuperação. Amarrar tanto Bruno Fernandes e tornar Gelson operário é contraproducente (mesmo tendo sido ele, através de transporte individual veloz, a criar mais perigo).

Sérgio Conceição deve manter fidelidade à identidade já alcançada, onde as dinâmicas preferenciais transcendem mesmo os nomes próprios que lhe dão essa mesma… identidade.