Domingo de Páscoa e acordo de barriga cheia, depois de mais uma vitória sem espinhos nem polémicas, sem desculpas nem adiamentos. Finalmente com o Dragão cheio, como devia estar todos os jogos, sem nenhuma exceção. Sem embandeirar em arco, mas já em festa. Ainda para mais na semana em que comemoramos os 40 anos de presidência do melhor presidente que algum clube desportivo já teve, algum dia.
Nas últimas semanas, todos temos sido sujeitos às habituais pressões, dos incomodados e dos que gostavam, mais do que de ganhar como ganhamos, de serem como somos. E é muitas vezes por isso mesmo que nos tentam separar. Taremi mostrou ontem o que já se sabia: ninguém nos cala. Nem hoje, nem nunca. Talvez ainda não tenham percebido, mas a nossa essência é também esta: ninguém cala este nosso amor.
Os 40 anos de Pinto da Costa são únicos e memoráveis, mas os últimos dez acumularam erros de gestão, muito pela equipa que tem à sua volta, mas de alguma forma também por sua responsabilidade, como líder. Não faz mal assumir, somos pessoas e erramos, e se há coisa que o mítico presidente tem são créditos para poder errar. Aliás, o erro é também nosso, porque somos sócios e portanto representamos o órgão mais importante do clube.
E nós, como clube, só somos melhores se tivermos a honestidade e humildade de saber perceber o que não tem corrido bem dentro de casa e de saber discuti-lo, sem receios de melindres ou reações, com consciência e elevação. Porque a humildade de procurar melhorar não afeta o amor próprio de quem somos e do sucesso que tivemos, que temos e que teremos. Nem todos os portistas concordam em construir o futuro já hoje, há quem prefira discutir apenas em Assembleias Gerais, como se isso acontecesse com a frequência necessária e permitisse a profundidade exigida. Mas é também nas opiniões diferentes que nos tornamos mais robustos. O nosso amor pelo clube, esse ninguém vai calar, nem hoje nem nunca.
Temos uma dívida com todos os que fizeram estes 130 anos de história: continuar a fazer o FC Porto crescer, ser respeitado e dar-nos as alegrias que deu, sempre com aquela identidade única, forte e insubstituível. Queremos que os nossos filhos sejam campeões europeus como nós fomos e os filhos deles continuem a sonhar ao mais alto nível, e temos de ser nós a assegurar o futuro de clube e não ter receio de o discutir, entre todos, com elevação, sem visões únicas e absolutistas, nem receio de assumir a diferença e a critica construtiva. Só assim se pode evitar erros do passado e construir em cima da nossa mística, mas com gestão contemporânea e sustentável. E para isso, podemos discutir hoje ideias e projectos, mas se há coisa que ninguém deve negar: seremos todos precisos, cada um no seu papel e momento.
E agora que, atentos a cada armadilha, nos preparamos para a festa do fim do campeonato que tanto merecemos, temos de nos saber preparar para discutir e construir o futuro do clube sem que ninguém se atreva a sufocar-nos, unidos na diferença e juntos na defesa desta mística tão única e tão nossa, que nos passaram na mesa da família e no recreio da escola.
Será o próprio presidente a querer, mais do que ninguém, que o futuro do clube honre tudo aquilo que soube co-construir enquanto “Azul e Branca essa bandeira avança”.
Azul, branca indomável, imortal – como não pôr no Porto uma esperança se daqui houve nome Portugal?
Artigo de Opinião: Pedro Barbosa, Empresário, Docente Universitário, Associado do FC Porto