Coletivismo, paciência, disciplina, estabilidade e comunicação são alguns conceitos essenciais para o treinador
No início de uma pré-época que já vai bem lançada – e na qual já foram conquistados os torneios internacionais de Estarreja e Vila Nova de Gaia -, Lars Walther, o novo treinador do andebol azul e branco, concedeu uma entrevista à Dragões em que desvendou algumas das suas ideias para 2017/18. A passagem por Portugal, como jogador, foi outro dos temas abordados.
Como recebeu o convite do FC Porto? Era uma equipa que costumava ver jogar?
Sim, tinha visto alguns jogos e tive contactos com um dos vossos rivais. Acompanhei a decisão do campeonato e sabia que algo podia acontecer. O meu agente chegou a falar com o Sporting, mas estou muito feliz por estar aqui e a cidade parece-me fantástica. Depois de ter visitado o Museu e visto a história do FC Porto, qualquer um fica orgulhoso por trabalhar aqui. Quando estive na Polónia as cores também eram o azul e branco e julgo que são boas para mim [risos]. Tenho muito orgulho em envergá-las.
Já que fala no seu período na Polónia, ao serviço do Wisła Płock, clube em que agora joga o ex-Dragão Gilberto Duarte: foi o momento mais alto da sua carreira?
Sim, em 2011, quando ganhei o campeonato polaco. Foi a primeira vez em muitos anos que o Wisła ganhou ao Kielce e a verdade é que não se repetiu. Foi algo fantástico e é um grande clube em termos de infraestruturas. Foram três anos especiais.
Regressemos ao FC Porto. Falou do Museu, o que representou para si a visita?
Já sabia que o FC Porto era um clube grande na Europa e que houve muitos treinadores de nível mundial a trabalhar aqui, como José Mourinho, Bobby Robson, Artur Jorge… No Museu podemos ver a dimensão do clube e o lado emocional. É uma grande responsabilidade representar um emblema com esta história e espero poder trazer mais alguns títulos.
O facto de já ter jogado em Portugal, no Sporting, em 1987/88, e no Marítimo, entre 1994 e 1996, foi importante para aceitar o convite?
Falo um pouco de português e aos poucos a língua começa a voltar. Saí há 21 anos, por isso preciso de voltar a aprender a pensar na vossa língua. Consigo fazer os treinos já em português, para conversas um pouco maiores preciso de praticar, mas acho que o vou conseguir muito depressa. Sim, é importante ter algum conhecimento do andebol em Portugal, conheço muitos jogadores do FC Porto e dos outros clubes e tem havido um grande desenvolvimento nos últimos anos. Há três anos estive na Maia como formador, num seminário, e participei em treinos com equipas portuguesas e falei com alguns treinadores. Comecei a pensar que poderia ser bom voltar a Portugal – esquecemo-nos de como era a vida cá e de como a comida é fantástica!
O FC Porto perdeu o campeonato, nos últimos dois anos, de uma forma algo dura, depois de dominar a fase regular. Um dos seus objetivos é também, até psicologicamente, deitar isso para trás das costas?
Já vi muitos jogos da última época. Creio que temos de trabalhar com paciência e disciplina, na defesa e no ataque. Precisamos de ter mais estabilidade e defender de forma mais compacta. A equipa defendia mais individualmente, o que dava espaço aos atiradores, e, depois, os guarda-redes nem sempre estão num grande dia. Às vezes uma equipa não joga bem, mas pode ganhar na mesma se tiver esta estabilidade, paciência e disciplina.
A defesa é a prioridade das prioridades?
Acho que o pilar de uma equipa de andebol é uma boa defesa, porque se defendemos bem podemos fazer golos fáceis em contra-ataque. Uma má defesa faz perder jogos que deveríamos ganhar. Isso tem a ver com estabilidade, teremos mais movimento na defesa, mais regras na defesa e no ataque e poderemos minimizar os nossos erros. E isso aumenta as nossas hipóteses de ganhar.
É uma filosofia que se aproxima da de Ljubomir Obradovic, que treinou o FC Porto durante seis anos e foi sempre campeão.
Sim, também vi alguns jogos da época dele e fez um trabalho fantástico. Se olharmos para a defesa dessa época, ela é muito similar à que idealizo. Iremos recuar um pouco para o que se fazia nessa altura.
A prioridade será certamente o campeonato nacional, mas até onde pode o FC Porto ir na Europa? Para já, na segunda eliminatória da Taça EHF, o adversário será o Volendam (Holanda) ou o Ohrid 2013 (Macedónia).
O sorteio foi positivo. Havia adversários mais fortes e poderia ter sido uma viagem mais longa. Já vi alguns jogos do Volendam mas creio que a equipa macedónia tem 70 por cento de hipóteses de passar. Vamos jogar com eles e vamos ganhar!
O primeiro objetivo é chegar à fase de grupos?
Sim, depois temos de ver jogo a jogo. Também tem a ver com sorte, porque entre os nossos possíveis adversários na terceira eliminatória há boas equipas, como Granollers, Saint-Raphaël, Göppingen, Füchse Berlim… Na fase de grupos, tudo é possível.
Este texto é um excerto da entrevista de Lars Walther à edição de agosto de 2017 da Dragões, a revista oficial do FC Porto, que pode ler na íntegra aqui.