Nas horas seguintes à divulgação da decisão, as reações vieram de várias direções e envolveram diversos intervenientes, incluindo alguns do FC Porto, clube que está interligado a este caso, uma vez que foi no Porto Canal que várias das comunicações que agora servem como evidência foram tornadas públicas.
Neste contexto, o jornal Record procurou a opinião de destacados adeptos do FC Porto, de modo a perceber a sua interpretação sobre esta decisão. José Fernando Rio, jurista, não hesitou e aplaudiu a inclusão da SAD do Benfica nas acusações, ao contrário do que aconteceu em outros casos como o E-Toupeira.
“Não compreendo é porque é que foi excluída dos outros. Entendo que esteja incluída neste processo, apenas não percebo como foi excluída do E-Toupeira, em que é evidente para todos que Paulo Gonçalves era um alto membro do Benfica, respondia diretamente a Luís Filipe Vieira e à SAD, era a representação do Benfica na Liga, um elemento intimamente ligado ao Benfica. E houve uma juíza, creio eu, que teve a interpretação de que Paulo Gonçalves não tinha relação com o Benfica. Foi a decisão mais surpreendente que vi nas deliberações que envolvem o futebol”, comentou, sublinhando a relevância da divulgação dos emails para que este passo fosse viável.
“Os emails expuseram um esquema altamente sofisticado de, se não de corrupção, de condicionamento do futebol português. Apenas me surpreende a escassez de processos que têm ocorrido, apesar de alguns, as poucas condenações que têm existido e o facto de o Benfica ainda não ter sofrido penalização”, acrescentou.
“Acusações muito sérias que devem alarmar o Benfica”
Por outro lado, Nuno Encarnação afirmou que há motivos para que os dirigentes do Benfica, “antigos e atuais”, estejam alarmados. “As acusações são muito sérias e devem preocupar o Benfica, assim como os seus dirigentes anteriores, porque a natureza e a gravidade quantificada e os relatos de tudo o que compõe a acusação do MP, como a simulação de compra e venda de jogadores e o desvio de milhões de euros do Benfica, são acusações que não devem deixar os dirigentes do Benfica, tanto os passados como os atuais, em tranquilidade. É muito alarmante no futebol português que, na atualidade, existam acusações tão sérias”, afirmou o gestor.
Analisando o conteúdo das alegadas práticas em investigação, o Ministério Público solicita o afastamento do Benfica das competições desportivas, algo que Nuno Encarnação mencionou ser fruto de “provas suficientes”. “O Benfica terá o direito de se defender, mas para o MP avançar com uma acusação de tal magnitude é porque há preocupações manifestas e têm evidências suficientes para solicitar a penalização máxima. É alarmante como se chegou a esta situação, como se chegou até aqui sem que ninguém se apercebesse e como é que se conhecem estes factos que existiram no clube ao longo de tantos anos”, afirmou.
José Fernando Rio, em contraste, considerou “prematuro” este pedido do Ministério Público, mas reconheceu que o Benfica corre esse risco. “No final, pode resultar neste procedimento, nesta condenação do Benfica. Se o MP solicita isso desde já, considero prematuro. Contudo, ao final do julgamento, perante as evidências, é um risco que o Benfica corre de forma séria”, comentou.
De fora deste processo ficou Rui Costa, atual presidente do Benfica, o que levou Nuno Encarnação a questionar se os membros da anterior administração “estavam desatentos”. “Uma questão é Rui Costa ter tido uma parte ativa nas ações que o Ministério Público identifica, outra é ter tido apenas conhecimento das mesmas sem manifestar uma parte ativa. É evidente que preocupa que estas pessoas que estiveram na administração não se tenham apercebido de nada. Estiveram todos a dormir, apenas alguns estavam atentos? Apenas alguns tomavam decisões ou todos faziam parte da mesma administração?”, questionou.
José Fernando Rio, em contrapartida, considerou que o facto de Rui Costa não ter sido incluído nas acusações é um atestado “de menoridade”. “Rui Costa não sabia o que se passava. Como administrador da SAD ou estando muito próximo, não saber o que se passa é um atestado de menoridade. Contudo, vejo com naturalidade essa decisão. Não me interessa que Rui Costa seja condenado, interessa-me que o Benfica, enquanto SAD e participante no campeonato, seja julgado. E se existirem provas de que realmente cometeu ilegalidades, o Benfica deve ser condenado e afastado. Existem provas que podem justificar uma condenação, vamos ver o que a justiça decidirá”, finalizou.